quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Compacto


vontade de escrever está cada vez mais reduzida. Mas não é só isso que se reduz. Os apartamentos estão reduzidos, as pistas estão reduzidas, os computadores também. Acabou-se a amplidão. A necessidade, a vontade. Os juros foram reduzidos; a morte foi reduzida. Os celulares foram reduzidos, a moral foi reduzida. O limite foi reduzido; a calcinha foi reduzida, os livros também. O jornal foi reduzido. O tempo foi reduzido, a paz foi reduzida. Os filhos foram reduzidos; o verde, idem. O texto, nem se fala...

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

40 anos de Acabou Chorare



Na minha discografia virtual há pelo menos uma dúzia de discos que reservo carinho especial. Um deles é Acabou Chorare, lançado em 1972 pelos Novos Baianos, talvez a melhor banda que a Bahia já produziu. O histórico álbum completa 40 anos agora e é, sem ponderação, um dos mais belos discos de música brasileira.

Acabou Chorare se inscreve como pioneiro ou o único bem-sucedido, numa categoria de obras e atos musicais que pretendiam ajustar elementos da música moderna e o rock universal à música brasileira. O disco acabou  apontando para quase todos os caminhos que seriam seguidos por rock e MPB nas décadas seguintes.

Aqui disponibilizou-o para download: http://bit.ly/wfRG77

sábado, 15 de outubro de 2011

O auxílio luxuoso do Tribuna da Bahia


Preparar um seminário para uma turma de estudantes de jornalismo nos dias atuais não é tão fácil quanto alguém possa imaginar. Eles, aliás, nós, geração Y, loucos por tecnologias da informação, mal prestamos atenção quando o colega vai explanar sobre algum tema lá na frente do quadro branco. Muitos com cabeças baixas, conectados à internet em seus smartphones, olham rapidamente com aquelas caras; aquelas caras mesmo de entediados.


Desta vez, todavia, estava disposto a acabar com isto; queria atenção. Não por vaidade –essa praga que destrói o bom espírito do homem – , mas, pois, era um tema importante; meus colegas precisavam entender um pouco daquilo que me foi proposto apresentar: a imprensa baiana frente a ditadura militar.


O que falar de novo sobre o assunto? Todo mundo sabe deste episódio nefasto da história recente. Qualquer estudante de jornalismo – quiçá qualquer pessoa alfabetizada – sabe que nesta época existia a censura, a tortura, sabe da história do AI 5, etc., etc., etc.


Eu precisava inovar, fazer um recorte específico do fato para garantir a atenção de minha audiência.
Um e-mail enviado pela coordenadora do curso falava de uma exposição em um shopping da cidade sobre os 40 anos da Tribuna da Bahia. Era o jornal que meu falecido pai lia todo dia. Lembrei-me dele sentado na rede da varanda com a Tribuna tomando quase todo seu minúsculo corpo já lívido pelo cansaço da quimioterapia.


Resolvi, então, resgatar a memória; a memória do meu pai, a memória da Tribuna, a memória da história, a memória da Bahia e do Brasil.


Era um domingo ensolarado na capital baiana quando fui à exposição. Belas fotografias, bons textos e uma surpresa: talvez meu pai não soubesse o que descobri ali: dad nasceu na mesma data que a Tribuna, só que cinco anos antes.


Voltei para casa com novas perspectivas para o seminário sobre a imprensa baiana e a ditadura. Já estava certo que iria falar sobre o surgimento da Tribuna da Bahia em pleno período militar, lembrando fatos marcantes deste periódico de resistência.


Achei minha idéia infalível. Meus colegas precisavam conhecer a historia deste jornal. Afinal, o relato jornalístico configura a realidade de cada tempo, de cada época, e esta, por sua vez, constitui a História.


O professor achou uma maravilha minha ideia, me deu dicas de pessoas que pude conversar, de livros que pude ler, tudo para enriquecer minha apresentação.


Chegou o grande dia depois de uma semana de preparação. Fui para frente da turma sentido aquele frio em todo o corpo. “Eles vão ter que prestar atenção do início ao fim”, pensava. É comum entra e sai de colegas e falta de atenção na hora da apresentação, mas desta vez eu, definitivamente, não queria isso no meu seminário.


Antes de começar, distribui aos 27 presentes a edição do dia do jornal. Gastei R$ 40,50. Foi uma forma interessante que encontrei para familiarizar aqueles que não eram familiarizados com jornal.


O slide começou com a primeira edição da Tribuna, que foi em 21 de outubro de 1969, com a manchete “Milhares de políticos são agora inelegíveis”. Neste momento contextualizei o surgimento do jornal e a época em que ele foi lançado, relatei alguns momentos em que a Tribuna preferiu optar pela coerência em detrimento da auto-censura e da omissão, garantido sua independência e autonomia.


Olhos atentos em mim. Nunca vi tamanha atenção da turma numa apresentação. Isso me deixava nervoso.  Era bem engraçado aquilo: eu estava com a primeira edição do jornal no slide e todos os meus colegas estavam com a última edição – a do dia, que dei-lhes no início.


A apresentação foi seguindo, meus colegas começaram a interagir, a fazer perguntas que às vezes eu não 
sabia responder, mas o professor, que foi repórter da Tribuna, me ajudava. 


Eu acabei a apresentação muito satisfeito; muitíssimo. Fui ovacionado e tudo. Eu não, a Tribuna, o mérito é todo dela, afinal, 40 anos com história é diferente de 40 anos de história.                                                                                
                                                                                                                                           

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Quando o cidadão assume o papel do jornalista


O que é ser jornalista? Embora infantil, a pergunta torna-se pertinente no cenário contemporâneo, principalmente no Brasil, onde recentemente a identidade jornalística tem sido objeto de discussão entre teóricos, seja pela não mais obrigatoriedade de diploma, seja pela emergência de novas mídias, seja pelos recursos multimidiáticos de celulares, por exemplo, fazendo com que qualquer pessoa seja capaz de coletar, produzir e divulgar informação, justamente a atividade do jornalista.

O celular e a internet tornaram o cidadão em potencial repórter do cotidiano. Muitas vezes, o próprio veículo de comunicação utiliza dos produtos produzidos pelo usuário comum como fonte ou complemento para informar o público.

Mais é preciso cautela. Isso não dá ao cidadão, mesmo quando testemunha ocular do fato, a condição de jornalista. 

O jornal A Tarde (BA) denomina de repórter cidadão as pessoas comuns que colaboram com o periódico. Mas precisamos conceituar precisamente este potencial colaborador, que é cidadão, mas não é repórter. A proposta aqui não é desmerecer o cidadão que participa da produção do jornalismo, mas situá-lo apenas como tal. A própria crise de identidade do jornalismo, com a derrubada do diploma, fazendo supor que qualquer pessoa possa ser jornalista, aliado ao recurso fácil de divulgação de conteúdo através da internet, pode confundir se o cidadão é ou não jornalista; se o que ele produz é ou não jornalismo.

O jornalismo pressupõe a captura e a divulgação das notícias, levando em conta o princípio da deontologia jornalística, o tratamento estilístico do texto e a hierarquização das informações. Por mais que o cidadão mande foto, vídeo e texto para a imprensa, ou mesmo divulguem-nas pela internet, ele não é um jornalista.

E por não sê-lo, desconhece a ética da prática profissional, o que pode, em algumas situações, acabar querendo lograr proveito próprio em cima da informação que a detém. Desta forma, tende a querer vender uma foto, um vídeo ou mesmo cobrar para ser entrevistado, quando percebe que possui exclusividade. Isso coloca o jornalista numa situação delicada; sabendo da importância do material jornalístico na mão do cidadão, mas da impossibilidade de consegui-lo. Afinal, sabemos que comprar informações - o chamado journalism check-book - não é eticamente adequado.

Sem esse cuidado ético, do senso do limite entre a informação precisa e o sensacionalismo, o cidadão tropeça por não conhecer os princípios da deontologia jornalística. Acaba produzindo material que vai muito além da informação necessária - isso quanto efetivamente é necessária. Fotos, vídeos e relatos que beiram o bizarrismo, a falta de senso humanitário e o grotesco podem permeiar esses materiais produzidos pela gente comum do dia a dia.

Quando o material é repassado para o jornalista profissional, este, supõem-se, deve fazer o tratamento pertinente do material amador; mas quando o próprio produtor resolve disponibilizar pela internet, por exemplo, a situação fica mais complicada.

O cidadão sabe do seu potencial repórter eventual que pode se tornar. Testemunha o fato atentamente, vive com o celular em ponto para captar uma foto ou um vídeo de um acidente na rua, ou mesmo algo hilário, exótico ou insólito. Mas nesse afã de produzir material exclusivo, talvez um senso jornalístico, pode levá-lo a sórdida frieza. Em um acidente qualquer, as pessoas se preocupam mais em captar o fato com o celular, que providenciar ajuda ou socorro. Num fato de interesse particular, a privacidade de outrem pode acabar sendo revelada pela falta de recursos éticos, que muitas vezes o cidadão comum não sabe.

O cidadão é necessário na produção dos jornais. É ele que compõem grande parte do material divulgado pela imprensa, com personagens que ilustram as reportagens. Todavia, essa relação precisa ser claramente delineada. O cidadão jamais será um jornalista. Ele é um colossal colaborador do jornalismo, mas é preciso colocar cada qual no seu cada qual.


terça-feira, 19 de julho de 2011

Boas vindas às revistas e aos cronistas.



Segundo o livro de José Sá, crônica é um gênero textual em formato de prosa prosaica, sem muitas pretensões nem pragmatismos.  O cronista fala das coisas corriqueiras do cotidiano das pessoas, mas o enxerga de forma sublime, perspicaz e, às vezes, jocosa.

O humorista Cláudio Manoel  – ele mesmo –  tem demonstrado substancial habilidade na escrita deste text kind, digamos, cujo sempre teve uma relação parental com o jornalismo. (A título de curiosidade, as escritoras Clarice Lispector e Rachel de Queiroz começaram a carreira na imprensa. A última foi a primeira cronista brasileira a escrever em jornais.)

Com a mesma habilidade do  casseta Manuel, a também comediante global de beleza exótica, Ingrid Guimarães, vem demonstrando o quanto sabe da arte do grande Rubem Braga.  Ele escreve para a revista masculina, de pouca vida, ALFA; ela para a também recém-lançada LOLA Magazine. Esta revista acredita que não exista só mulheres interessadas em receitas, beleza e celebridades. Aquela entende o homem mais  - eu sei que é clichê - cool, menos interessado em escândalos políticos, e menos ainda em resultado da economia global, sem deixar de considerá-lo inteligente, claro. Ambas as publicações têm menos de um ano de vida, foi lançada pela editora Abril, e são voltadas para o público  classe A. (Quiça AA.)

Como dizia, Cláudio Manuel e Ingrid são cronistas destas revistas. Escrevem bem, surpreendentemente.  Afinal, quando olhamos as bobagens que eles fazem na TV, deixa a entender que não passam de Antas semi-alfabetizadas em escola pública do Haiti. Ambos possuem habilidade estilística, domínio da norma culta, não erram na crase nem tropeçam na vírgula; são cronistas colossais. É só ler as revista deste mês. Cláudio cronica à respeito das atuais, e cada vez mais comuns, marchas, esse manifesto público resultados dos regimes democráticos. Ele dispara: “Quero deixar claro que não me oponho às marchas. Jamais marcharia contra elas”.

Já na edição deste mês de LOLA Magazine, Ingrid mostra o quanto é sensível ao cotidiano contemporâneo, resultado de uma vida de instabilidades e cobranças de todas as coordenadas geografica- sociais, para escrever o tal texto crônica. Vejamos: “Se for só mãe, não vou me sentir realizada profissionalmente! Se for workaholic, vou ser péssima mãe! Se não me cuidar, meu marido vai me largar! Se não organizar a casa, ela não anda! Se me preocupar demais, pode prejudicar  saúde! É , para ser saudável, tenho que viajar! Mas organizar a viagem toma tempo!

Lê-los é pegar a revista sem pretensão ou expectativa, como todo cronista e leitor destas. Afinal, a gente sempre acha que comediantes stund-up´s, acadêmicos alcoólatras, políticos decadentes, jornalistas incompetentes, celebridades emergentes e intelectuais descontentes, têm sempre algo melhor a dizer.


revistaalfa.abril.com.br
www.lolamag.abril.com.br

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A relação promíscua entre o jornalismo e a política

A sociedade brasileira vem experimentando os frutos de sua experiência democrática, observando o amadurecimento das instituições sociais, e reconhecendo estas como alicerces imprescindíveis para a estrutura sólida de uma democracia tão recente, frágil e, quiçá, infantil como a nossa. Neste afã, a imprensa exerce um papel importante como porta voz das demandas da sociedade e nas escolhas dos debates nas arenas do circuito de poder. Qual foi o papel dos jornalistas e do jornalismo para a contribuição no estabelecimento de um regime democrático de direito nas três últimas décadas?

As respostas, ou algumas delas, podem ser encontradas no livro Jornalismo e Política Democrática no Brasil, da jornalista Carolina Matos. O trabalho é fruto de uma pesquisa intensa, que resolveu analisar o posicionamento da grande mídia brasileira frente à campanha das Diretas Já, em 1984, e em três campanhas eleitorais para presidência da república: a de 1989, 1994 e 2002.

Não é novidade que a grande mídia, em muitos momentos, flertou com as instâncias políticas de poder, num jogo promíscuo de troca de favores e clientelismo. Todavia, a autora faz uma análise disto sem endossar um discurso bipolar - que ela mesma chama de ingênuo - que é apenas acreditar que os média apenas difundem o discurso das elites políticas dominantes, contribuindo, assim, para a permanência do status quo e do estabilisment da estrutura política. Carolina Matos prefere utilizar um método mais flexível, menos polarizado, como ela mesma afirma nas primeiras páginas do livro: “Neste trabalho, procurou-se não cair em nenhuma dessas armadilhas: seja analisar a mídia sob o prisma do pessimismo radical – aquele que não vê nada de bom ocorrer na esfera midiática, e que assim já declara um fracasso antecipado – ou num otimismo excessivamente apoiado numa visão de mídia como se esta fosse um amplo espaço de troca de ideias livres para o consumo”. Nesta perspectiva, o livro parece ser mais lúcido e menos impregnado de convicções ideológicas, tornando-o minimamente palatável.

No capítulo 1 (A mídia brasileira na berlinda: definindo uma agenda para o debate) Matos expõe de forma genérica, porém não pouco densa, uma introdução do trabalho e a perspectiva histórica da imprensa nacional. Já no capítulo 2 ela efetivamente começa seus estudos do posicionamento do jornal Folha de São Paulo na cobertura das campanhas das Diretas Já. Para tanto, a autora leu e comparou 871 matérias nos seis meses anteriores à votação da Emenda Dante de Oliveira, que previa a volta das eleições diretas para presidência da república. A partir destas matérias, que não foi só da Folha, Matos mostra o quanto o jornal paulista ficou claramente a favor das campanhas, não só através do teor da matérias,  como também em editoriais, sem esquecer de mencionar que o mesmo jornal, outrora, sustentou o próprio regime militar, agora é o mesmo que pede sua queda. A autora mostra como alguns críticos acusaram este posicionamento da Folha como mera jogada de marketing “adotada para dar impulso à imagem do jornal como principal veículo de comunicação que contribuiu para avançar na democracia”. É sempre bom lembrar que foi neste mesmo ano, conforme nos diz a autora, que a Folha de São Paulo, implantou a Reforma Folha, que trazia um novo modelo de jornalismo na estrutura organizacional do periódico, deixando o partidarismo de lado, tornando-o mais objetivo e plural, introduzindo as premissas do jornalismo liberal importado dos Estados Unidos, tratando as noticias agora, mais do que nunca, como mercadoria. Portanto, segundo Matos, esta foi a última vez que a Folha se engajou na defesa de um ideal político, mantendo-se a partir  de então uma postura mais neutra, não imparcial, todavia.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Semiótica: a ciência dos signos


O homem é um ser histórico-social, assim o é caracterizado pois é o único ser vivo que possui cultura; e só a possui pois foi capaz de criar linguagens para comunicar, socializar, compreender, relacionar etc. Sem a linguagem o homem não adquiriria cultura e não seria esse homem tal como entendemos.

A semiótica, disciplina que teve sua origem no século XIX, tem a linguagem como objeto de investigação. Toda produção humana estruturada numa complexidade lógica para comunicação é interesse desta ciência. Ela estuda os signos que são, digamos, representações de alguma coisa, ou como conceitua Piece, o signo é uma coisa que quer dizer outra coisa ou, como outro autor sugere, o signo é aquilo que está presente no lugar daquilo que está ausente.

Os signos são representações, estão ali para representar algo/ como o mofo em um pão, que significa que o produto está estragado, que não deve ser ingerido. Os signos, segundo a visão de Piece, se classificam em ícone, índice e símbolo, cujo primeiro é a relação de uma semelhança entre o signo e o referente; o índice é a relação direta entre signo e seu referente, e símbolo é a relação convencional entre eles.

A semiótica emergiu dentro do campo do saber humano num mesmo período, mas em lugares distintos. Nos Estados Unidos  surge com o filósofo-lógico Piece que estabelece uma relação trial com os signos: primeiridade, secundindade e terceiridade; a primeiridade seria o olhar do interpretante sobre os signos; a secundidade sua capacidade de relacionar, e a terceiridade seu conceito.

Na Europa ocidental foi o pai da lingüística moderna, Saussure, que pensava os signos numa perspectiva mais restrita, através do próprio campo da lingüística, ou seja, os signos são entendidos pelo sistema lingüístico. Saussure, ao contrário de Piece, estabelece uma relação dual como signo: significante-significado.

Já na Rússia revolucionária os experimentos científicos levaram, na mesma época de Piece e Saussure, a entender a relação dos signos na vida social, ou seja, os signos e as relações e as produções culturais. Einstein, um cineasta russo, procurou entender a lógica dos signos nas linguagens artísticas através do cinema, teatro, literatura, dentro de um movimento chamado poética russa, apoiado no estruturalismo lingüístico, todavia faltou um corpo teórico-cientifico na semiótica soviética. Assim. A semiótica estuda signos, entendendo seus significados, o significado da humanidade e suas produções diversas.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Jornalismo na Internet: guia prático para ciberjornalista


Os avanços cada vez mais velozes no campo da tecnologia da comunicação exigem um jornalista capaz de avançar seus domínios, nesta área, na mesma velocidade em que outras mídias e diferentes ferramentas emergem. Nos últimos anos, principalmente quando da abertura comercial da internet, o conceito de jornalismo multimídia vem sendo discutido com frequência, e ninguém mais discute a importância deste profissional lidar com novas plataformas de comunicação; a internet e as redes sociais deixaram claro o quanto esse domínio não apenas é importante, como imprescindível.

Neste contexto surge o Jornalismo na Internet (ed. Summus, 246 págs.), de J.B. Pinho, para estudantes e profissionais de jornalismo interessados em aprender princípios e técnicas básicas para a mídia revolucionária, que é a Web. Trata-se de um guia prático para aqueles que desejam entender a internet e a Web como mídia de comunicação, e nela desenvolver seu trabalho com eficiência e autonomia.

O Jornalismo na Internet pode ser óbvio para uns e didático para outros, na medida em que o autor traça nas primeiras sessenta páginas do livro, um apanhado histórico do computador, desde os experimentos norte-americanos, bélicos e acadêmicos, passando pelo desenvolvimento e o avanço da Arpanet, até desbancar na mais interessante parte da internet, que é a Web, a famosa WWW. J.B. Pinho traça um cronograma dos principais avanços da informática, inclusive conceituando termos comuns, como HTML, HTTP e URL.  Para os que já estão acostumados e familiarizados com essas ferramentas tecnológicas comunicacionais, o livro pode ser um tédio; o autor explica o que é internet e suas ferramentas como se fosse para alguém que nunca viu um computador na vida. Lá é explicado até como anexar um arquivo num e-mail. Por outro lado, o livro pode ser, ainda que no início, muito prazeroso para os jornalistas mais velhos e com formação mais tradicional, que vão buscar reciclar-se. Porém, é bom não esperar conceitos jornalísticos complexos e surpreendentes, até por que falta autonomia para J.B. Pinho: ele é formando em Publicidade e Propaganda.

O livro começa a ter cara de assunto para jornalista quase na página cem. É aí que o autor começa a falar sobre a linguagem jornalística para a internet. Primeiro enumera algumas características da Web, diferenciando-a de outras mídias, que são fisiologia, não-linearidade, instantaneidade, dirigibilidade, qualificação, custos de produção, interatividade e pessoalidade. O autor bate na tecla diversas vezes, dizendo que o texto jornalístico para a Web deve ser cinquenta por cento mais curto que o do papel. Isso se deve, segundo ele, pela ainda não cultura de se ler pela internet, aliado a dificuldade fisiológica, que é a tela do computador para leitura, somando-se a isso a hiperatividade do internauta, que facilmente poderá encontrar outro canal para se informar caso não o interesse o que lê. Para que isso não aconteça ele dá uma dica: títulos de até 160 caracteres, a fim de ser mais prático nos mecanismo de busca, como o Google.

Para finalizar J.B. Pinho também explica a importância de um bom planejamento gráfico para sites jornalísticos. Segundo ele, os valores estratégicos de um portal noticioso são a identidade, impacto, audiência e competividade. Na fase do processo criativo, na elaboração do próprio portal, não pode faltar expansão, contração e pré-produção. E aqueles que estão pensando em montar um sítio na internet, as dicas do autor são: planejamento, designer, implementação, teste e suporte.

Aos que o livro possa interessar, ele pode ser encontrado nas livrarias físicas e virtuais a preço médio de R$ 30,00.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Edison Carneiro: jornalista e etnólogo à frente do seu tempo


As primeiras décadas do século passado foram marcadas – também - por esforços de intelectuais como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Hollanda, Caio Prado Jr, só para citar alguns, para esboçar os traços históricos do país e a construção de uma identidade como nação recém saída do regime escravocrata e monárquico. Neste contexto, o advogado de formação e jornalista e etnólogo por opção, Edison Carneiro, baiano, não economizou esforços para entender e difundir aspectos da cultura brasileira, mais precisamente a de origem afro.

Toda a trajetória deste intelectual que viveu nos anos 30 do século passado é narrada no livro homônimo, do jornalista Biaggio Talento e o historiador Luiz Alberto Couceiro. A biografia faz parte da coleção Gente da Bahia, editada pela Assembleia Legislativa da Bahia, que ainda retrata grandes nomes da cultura baiana, como Riachão, Pastinha, Carybé e Guido Guerra.

Mulato, de família sem muitos recursos matérias, Edison Carneiro dedicou-se quase a vida inteira, na Bahia e no Rio da Janeiro onde morou por algum tempo, na pesquisa sobre a cultura de matriz africana. Quem estuda o candomblé, por exemplo, não poderia deixar de ler o seu mais famoso livro, O candomblé da Bahia. Edison sempre procurou valorizar os cultos afros e toda forma de representatividade cultural oriunda da África. Num período em que a policia reprimia o culto afro na cidade e os jornais baianos publicavam matérias depreciativas sobre a prática da religião, Edison foi um dos primeiros jornalistas a escrever em jornais, textos que valorizavam a cultura e as religões negras, respaldado em suas pesquisas de campo em terreiros da capital baiana.

Muito amigo de Jorge Amado, Edison teve textos elogiados por pesquisadores estrangeiros, além de intelectuais brasileiros, como os já citados Freire e Sérgio Buarque de Holanda. Pouco conhecido do público, o livro retrata a vida e a obra deste intelectual baiano, mas também todo um contexto sócio-cultural e político baianos daquela época. Vale a pena lê-lo.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Homossexualidade: avanços e retrocessos

Nas últimas semanas o tema homossexualidade tem ganhado destaque nos noticiários nacionais, seja pelo reconhecimento do STF - a corte brasileira -, na união estável homoafetiva, seja pelas esdrúxulas opiniões homofóbicas do deputado Jair Balsonaro, seja pela proibição do tal kit-gay nas escolas públicas do país e, por fim, pelo primeiro beijo gay em telenovela brasileira, que foi ao ar há poucas semanas. O fato é que o tema está em evidência.

As discussões à cerca das liberdades fundamentais e individuais numa sociedade democrática como a nossa devem ser realimentadas. É legítimo que cada um tenha o direito em optar por sua sexualidade sem interferência de nenhuma instituição - nem mesmo a Família - sobre o assunto.  Ninguém pode se imbuir de legalidade para autorizar ou não com quem cada um vai  estabelecer relações afetivas-sexuais, que não o próprio indivíduo. A Carta Magna de 1988 garante uma democracia, e esta só é plena quando é cumprida  e respeitada plenamente. A recente decisão do Supremo Tribunal Federal dá luz a essa perspectiva, na medida em que garante a igualdade, do ponto de vista jurídico, de todos cidadãos. Este ano o Estado brasileiro, representado pelo STF, mostrou à sociedade que podemos construir uma nação onde as discriminações sejam cada vez menores.

Embora tímidos, o Brasil vem experimentado avanços no reconhecimento legítimo da união homossexual. Infelizmente, decisões mais significativas não passam pelo Congresso Nacional, por conta da bancada evangélica, que insiste num discurso vazio, irracional, quiça burro. A lei da Homofobia, que criminaliza a violência em decorrência de ódio ao homossexual, não consegue aprovação; será mesmo racional uma mente que acredite que não deva ser punido quem agride ou mata alguém em virtude de sua sexualidade?

Se, de um lado, o Poder Legislativo impede qualquer avanço sobre o tema, o Poder Executivo, por outro, tem mostrado, nos últimos anos, sensibilidade com ações de inclusão dessa minoria, no âmbito de sua competência, através de portarias e decretos, que não precisam da burocracia legislativa. É o caso na Agência Nacional de Saúde (ANS), que desde esse ano obriga os planos de saúde a aceitarem o parceiro homossexual como dependente; a Receita Federal desde o ano passado já considera o companheiro gay na dedução do imposto de renda; o Conselho Federal de Medicina, a partir deste ano, aceita que um casal gay possa recorrer à reprodução assistida; há cerca de três anos o Sistema Único de Saúde (SUS), oferece gratuitamente a cirurgia de mudança de sexo. São mudanças sutis, mas a longo prazo, talvez possam trazer efeitos positivos. 

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sylvia Patricia lança novo disco em Salvador


Depois de mais de um ano, a cantora Sylvia Patrícia volta a sua casa, na Sala do Couro do Teatro Castro Alves, em Salvador, para apresentar seu mais recente trabalho, o disco Andante, lançado pela Lua Music.

Seria uma indelicadeza rotulá-la como pop/rock. Sylvia ganhou prêmio Sharp de música em 1988, como cantora revelação na categoria; mas seria limitá-la se assim fizesse. Talvez seja uma Cássia Eller sem sucesso, pois Sylvia não tem sucesso.

No show apresentado ontem, a cantora depois de uma temporada de 140 shows fora do país, apresentou grandes sucesso e as novas músicas de seu novo trabalho.

Na platéia o instrumentista Armadinho.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Confusão

As relações hoje em dia são tão complicadas que não é difícil o dilema ser ou não ser, ou quem mesmo eu sou? Os clichês não permitem; tudo tem quer ser instantâneo como a televisão. A revolução tecnológica na área de comunicação tem importância nesse novo tempo de culto a si mesmo ou a ninguém. Na realidade tudo é tão confuso, não há unidade; coerência. Preserva-se a plasticidade; a artificialidade; a superficialidade nas relações humanas; não sabemos se agimos como entendemos ou como o outro entende; não sabemos se nos respeitamos ou respeitamos o outro; não existe entremeio. Acredito que as relações humanas sempre foram caóticas, o que a sociedade tenta é provar uma precípua pacificação das relações; talvez para se tentar provar o quanto evoluiu nossa civilização - ocidental. Apresentam-se a diplomacia como o símbolo máximo desse tempo  iguais os de outrora.

Os merdas dos estadunidenses ainda acreditam que são o mais civilizados do mundo; outros são mais modestos, acreditam ser do ocidente.

Acusam o presidente do Irã de tentar matar a humanidade como a bomba atômica; os Estudos Unidos acha isso um perigo; eles ainda acreditam que só eles podem ter a tal bomba, que acabaria com a humanidade num querer. Apenas eles, civilizadamente competentes e responsáveis,  podem tê-la. Na realidade os Estados Unidos morrem de medo de começar o extermínio por eles; e sabemos que se isso podem vir de qualquer lugar; até do céu.

Todavia esquecem que foram eles que rumaram a tal bomba no Japão; eles dizem que foi brincadeirinha; hoje se sentem envergonhados tão quanto os alemães no episódio lastimoso da nossa história recente, aliás muito recente. As ditaduras nas américas; as guerras cambiais; as especulações transnacionais; as madeiras ilegais; as clichês informais; os amores letais; as armas banais; os crimes fatais; os abusos morais. Tudo isso me confunde.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O setor de comunicação precisa de regulação prementemente


O ano que se finda certamente será um marco, no que tange à tentativa de regular e regulamentar o setor de comunicação no Brasil. O ministro Franklin Martins, da comunicação social, é o expoente dessa empreitada tardia, cujo começou na Conferência Nacional de Comunicação, no ano passado, boicotado pelo empresariado do setor, que acusa o projeto de atentado à liberdade de imprensa e expressão. Ledo engano.

Historicamente, a comunicação jornalística no Brasil, principalmente a radiodifusão, se  estabeleceu por critério mera e exclusivamente político; concessões públicas para operar o espetro foram barganhadas por influências espúrias entre congressistas e particulares, passando por cima de qualquer princípio ético e legal. Seu controle parou e permaneceu nas mãos de correligionários, através de testas de ferro, e propriedade cruzada, e isso é sabido de todos; ou quase todos. O reflexo destas práticas de concessão está diretamente ligada na qualidade dos veículos, além, claro, da concentração da propriedade nas mãos de nove ou dez famílias, difundido um discurso anti-plural para quase duas centenas de milhão de pessoas.

Ademais, princípios éticos e legais são diariamente violados pelos média e publishes no país afora. Desde violação dos direitos humanos, principalmente nos programas de temática policial, até o desrespeito do cumprimento da classificação indicativa. Desequilíbrio regional, onde apenas a região sudeste, digo os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, prolifera sua programação de qualidade duvidosa para todo Brasil. Não encontramos na televisão aberta brasileira, um modelo plural e alternativo de programação que respeite a diversidade existente neste país gigante. Não encontramos, também, um jornalismo mais profundo, didático, ético e analítico. Muito menos uma televisão que se valha pela primazia da cidadania. Isso por que a comunicação no Brasil está nas mãos de empresários, ávidos pelos lucros, e tentar ampliar o direito de outros atores sociais se comunicarem com a sociedade, é visto como um atentado às liberdades. Mas atentado mesmo, e digo também à dignidade humana, é a forma que se faz comunicação neste país, pois o desrespeito é quase que diário.

A imprensa impressa também é digna de criticas, embora essa, não sendo uma concessão pública, é, portanto, um ramo mais delicado para se regular.

Os grandes jornais brasileiros são, talvez, os mais influentes na sociedade, pois falam para um público distinto, economicamente abastardo e com grande poder de decisão nas arenas de debate; é capaz de pautar e repercutir as mídias mais tradicionais. A questão é que os jornais, que fazem parte de conglomerados monopolizados por clãs, e com forte influência na política conservadora, estão mais interessados em eleger suas preferências pessoais, tais como candidatos à cargo eletivo, que informar isentamente a sociedade. Isso ficou claríssimo nas eleições últimas, confirmado a declaração da presidente da Associação Nacional dos Jornais, cujo afirmara que este ano a imprensa iria se comportar como partido de oposição. Imprensa se comportar como partido? É novo esse conceito?

O setor de comunicação no Brasil nasceu precário e assim o é. O contrato social celebra-se através de regras, leis, normas. Isso é um princípio da sociedade, pois garante o direito de liberdade e maior gozo social. A comunicação brasileira precisa de regras, cujo preze pelos preceitos éticos e legais, garantido a real liberdade de imprensa e expressão, que são os empresários os únicos que a detêm. Regular as mídias é garantir a universalização da comunicação plural de qualidade. É respeitar o direito do cidadão, às leis, os direitos humanos e, acima de tudo, a sociedade, tornando-a mais íntegra.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A imprensa e a cobertura 'política'

As últimas eleições presidenciais mostraram o quanto precisamos amadurecer o que presunçosamente chamamos de democracia. É importante ressaltar o papel da mídia nesse processo todo; o tratamento que deu ao tema ‘eleições’ e ‘política’ e se, como mediadora natural que é, fomentou o debate cujo levasse a sério as questões do Brasil.

Nos últimos meses vimos, diariamente, matérias e reportagens a respeito das eleições e dos presidenciáveis. Notícias das mais diversas, desde o uso das redes sociais aos escândalos pré-fabricados. Em algumas democracias, a imprensa tende a, nos últimos meses, não noticiar escândalos políticos; no Brasil a coisa é invertida: espera-se o momento, os oportunistas da mídia, para ofuscar o mente de eleitor; tudo movido a exóticas e bizarras paixões ideológicas.

Trata-se de um mercado que abre as portas. São pessoas que prestam consultoria na área de descobrir uma falcatrua de alguém ou instituição. E vale tudo: desde uma boquinha para um aparentado até uma trepada mal dada com a/o amante. Arma-se o circo. E no período pré-eleitoral a grande mídia, a fim de atingir maiores audiências, deleita-se com os escândalos mais pérfidos da política nacional.

Certa vez dissera a um colega que queria seguir carreira em jornalismo político. Ele – que também é estudante de jornalismo – ojerizou minha escolha. Disse-me que odeia a política brasileira, que não está a fim de todo dia ficar no disse-me-disse das esferas do   poder nacional. Hoje estou mais próximo do pensamento dele que o meu.

Nota-se claramente que a imprensa, no Brasil, não faz cobertura de política, mas cobertura de escândalos políticos; apenas isso, parece-me, é capaz de matar sua sede e voraz vontade de ver a degradação moral brasileira. A grande imprensa é especialista em investigar escândalos de figuras e instituições carimbadas previamente. É ruim que a mídia não se preocupe em cobrir a política de forma mais densa e aprofundada. Ampla. Fica apenas no relevo de intrigas pessoas, discórdias de partidos e escândalos entre picaretas no cenário político nacional. É preciso entender que cobrir política não é abrir uma sucursal em Brasília e eleger um jornalista setorista. É muito raro ver coberturas que tratem de políticas públicas, por exemplo. Todo dia tem algo sobre política nos telenoticiários brasileiros, mas ninguém sabe o que é política de reparação, políticas públicas, política de inclusão. Todavia, qualquer criancinha deve sabe que ‘todo político é ladrão’. Como politizar o povo se a mídia não colabora em nada nesse processo fundamental para a democracia?. É notório que precisamos discutir a mídia, já que ela mesma não se discute, não faz auto-análise pela sua arrogância e presunção. É muito claro que o jornalismo no Brasil precisa de uma dose de ética, para não deixar a população ébria. Quando se fala de uma regulamentação ou conselho para o setor, ela, a grande mídia,  se ofende e diz se um atentado a liberdade de imprensa, mas ninguém quer regulamentar para censurar, mas para impor uma qualidade mínima nos veículos de comunicação no Brasil, que inexistem por inexistirem critérios básicos de ética e responsabilidade social.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O(s) cerceador(es) da liberdade de imprensa

Tradicionalmente no Brasil, os veículos de comunicação estão no comando de clãs, e isso, acredito, não é novidade para ‘ninguém’. Pouquíssimas famílias detêm o grande bolo do mercado de imprensa no país: Mesquita, Marinho, Civita e Frias, sem falar nas dinastias regionais, como Magalhães e Sarney, por exemplo, são alguns dos nomes com maior capacidade de proliferarem seus discursos a maiores geografias, e capazes, também, de formar opiniões em milhões de cabecinhas, pela audiência que alcançam. Na verdade, a ‘grande imprensa brasileira’ ainda é infantil, pois comporta-se como a opinião pública,  usurpando-a e produzindo um produto parecido com o jornalismo; nas entre linhas o discurso voraz em comandar o país, todavia; quiçá o mundo. Não se identifica nos maiores veículos e grupos de comunicação, uma posição preocupada no equilíbrio dos discursos, fazendo prevalecer uma construção parcial e limitada da realidade, tornado inútil seu propósito.

Ela, a grande imprensa, se auto-institucionalizou a voz da sociedade, auto-impondo sua opinião, como se fosse à opinião pública. Qualifica e desqualifica discursos e opiniões a bel prazer de suas convicções ideológicas, como fez, recentemente, com o presidente que, no exercício da liberdade de expressão, respaldado constitucionalmente, inclusive, dissera que no Brasil a mídia se comporta como partido político, e que cada veículo deveria se posicionar, formalmente, a respeito de seus respectivos apoios políticos partidários. A repercussão do comentário do presidente tomou dimensão gigantesca por parte da mídia nacional. Durantes os dias seguintes, editorias e reportagens eram confeccionados chamando Lula de autoritário e ditador, cujo queria amordaçar a imprensa e cecear a liberdade de expressão. Foi quase unânime a posição dos grandes veículos de comunicação do país a respeito do caso; satanizaram Lula como o monstro que quer degolar e estuprar a imprensa.

O comentário de Lula não foi nada além da verdade. Ou é mentira que a mídia no Brasil se comporta como partido? E a Veja, O Globo, Folha e Estadão? Todas elas com posições políticas claríssimas, porém veladas. Lula cutucou a onça que se irritou; tanto é verdade que, no dia seguinte a sua polêmica declaração, o Estado de S. Paulo, em editorial, repudiou as declarações de Lula, mas resolveu mostrar as caras: disse que apoiava Jose Serra para presidente. Não é muito mais honesto dizer a verdade que ficar travestida da falsa imparcialidade, como o próprio presidente falou na ocasião?

Dizer que a mídia age como partido é tentar amordaçar a imprensa, segundo ela mesma. Todavia, quem diz que um determinado jornalista mente em suas matérias, como José Serra fez aqui em Salvador com um profissional de imprensa, não é, tão ou mais grave, que o comentário do presidente Lula. Afinal, afirmar que um jornalista mente em suas matérias, somente pelo motivo de contrariá-lo, talvez, seja a mesma coisa que dizer um médico é charlatão, porque não curou uma doença. José Serra não apenas desqualificou o jornalista, mas desqualificou o jornalismo, pois a mentira não é, nem nunca foi matéria prima do jornalismo. Acusar um jornalista de mentiroso é sim tentar amordaçar a imprensa e cecear sua liberdade de expressão, mas o fato passou despercebido das reuniões de pauta e editorias de grandes jornais brasileiros. Inocuamente passou nesses espaços de deliberação política sistemática, que são as grandes redações jornalísticas no Brasil, a ameaça que senador e ex-presidente Fernando Collor fez ao jornalista da Istoé. Ele ligou para a redação ameaçando Hugo Marques, por algumas notinhas sobre o pedido de impugnação de sua candidatura. Entretanto, um pequeno comentário de Lula sobre o comportamento da imprensa, foi eleita por ela mesma, como símbolo de um presidente semi-ditador e autoritário. O mais engraçado desta trama metalinguista da imprensa brasileira, é que quando ela resolve ser pauta de si mesma, é apenas quando sente-se ameaçada, ela só não faz reportagem nem editorial, quando ela torna-se ameaça, inclusive a própria Liberdade de expressão  e imprensa.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Um real por click e Dilma elege-se em 1° turno

 A revista Piauí desse mês traz uma reportagem interessante: o uso da internet e das mídias sociais nas campanhas dos presidenciáveis. É evidente que essa ferramenta comunicacional tornou-se importante, principalmente pensando no Brasil que tem um dos maiores contingentes de internautas no mundo. Até aqui nada de errado. O equívoco é que os candidatos querem fazer aqui, no Brasil, o que Barack Obama conseguiu no EUA: pesquisas mostram que a internet foi uma importante aliada no êxito da campanha. A equipe de Obama usou as mídias sociais para divulgar, promover e tornar conhecido o então senador eleito presidente. Desde esse fato inédito, a respeito de novas tecnologias a serviço de campanha eleitoral, quem pleiteia um cargo eleitoral vê na internet a promoção e o caminho do pote do ouro.

Os mais notórios presidenciáveis no Brasil da campanha tripolar 2010, possuem núcleos que se dedicam exclusivamente à campanha on line, tendo como parâmetros a cybercampanha Obama. A filha bastarda de Lula, Dilma Rousseff, contratou a mesma empresa que conseguiu eleger Obama, com o auxílio luxuoso da internet, para fazer o mesmo aqui. Aqui as coisas são diferentes, todavia. É uma grande ilusão acreditar que a internet no Brasil é capaz de eleger um presidente como nos EUA, quiçá qualquer país latino-americano.

No Brasil existem 67,5 milhões de internautas segundo o Ibope/Nielsen em dezembro de 2009. Em setembro eram 66,3 milhões. Ou seja: em apenas três meses surgiu 1,2 milhão de novos brasileiros com mais de 16 anos na internet. O Brasil é o 5º país com o maior número de conexões à internet. A grande diferença entre os internautas brasileiros e estadunidenses é meramente cultural. No Brasil as pessoas usam a internet para entretenimento. Além de serem marginais ao processo político, ficando aquém do debate e da arena de decisões, os brasileiros não foram alfabetizados digitalmente. Ademais o que faz no virtual é conseqüência do real, portanto no Brasil a internet é inócua para eleger um postulante a cargo público.  Nos Estados Unidos a campanha no cyberespaço teve eficácia, pois naquele país há uma cultura de participação política, onde as pessoas estão dispostas a pesquisar na internet a biografia do candidato, a mandar sugestão no plano de governo e, inclusive, fazer campanha, doando até dinheiro, tudo de forma voluntária. Aqui o brasileiro faz campanha também, desde que a ele seja creditado uma nota do mico-leão para ficar segurando um bandeira na Av. Paralela; as pessoas plontam seus carros desde que a elas sejam creditadas um vale-gasolina ou um bico num órgão público; as empresas doam nas campanhas, desde que seus interesses sejam defendidos cabalmente. Como acreditar em um processo democrático se cada um está de olho no seu quinhão?

O diretor da empresa de consultoria de elegeu Obama, contrato por Dilma Rousseff ficou atônito com a realidade cultural e política do país. Aqui não se pode fazer o que se fez o por lá; pensou até em arrumar as malas e desistir, óbvio.  Até lhe deram um idéia: “e se a gente pagar ao internauta cada vez que ele clicar em nossa página? No Brasil é assim!”.





sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O presente mal entendido

Júlio foi pego de surpresa ao receber o convite de aniversário de sua ex-namorada; não imaginava que fosse lembrar-se dele passado quase um ano após o rompimento do namoro, ademais a ruptura não foi muito amigável e já havia alguns meses que eles não se comunicavam. Ambos já estavam com novos pares amorosos e já possuíam novas pretensões sexuais e ilusões sentimentais.

Na caixa de e-mail de Júlio havia um de Cássia, cujo assunto era “Convite de aniversário”. Até achou que fosse spam, mas para sua surpresa não era. Achou que seu e-mail foi no meio de tantos outros sem que Cássia percebesse. Não acreditava que depois do episódio do fim do namoro Cássia fosse convidá-lo para seu 22° aniversário.

Resolveu então acreditar que recebeu o e-mail por engano e logo descartou a possibilidade de ir ao evento no fim de semana subseqüente ao recebimento do e-mail-convite. Mas no dia seguinte recebeu o telefonema de Cássia: “você vem ao meu aniversário no sábado, Júlio”, perguntou. E ele, não menos surpreso quando recebeu o e-mail, respondeu: “Claro, Cássia. Estarei lá, sim”.

Sentia-se de fato convidado para o tal aniversário, mas foi apenas o ímpeto que o fez responder “sim”, pois não desejava encontrar os pais de Cássia, mas não era hora de pensar nisso; precisava escolher um presente para a aniversariante.

Cássia era adepta da cultura pop. Enquanto se deleitava ouvindo Madonna ele tinha a mesma sensação ouvindo Ella Fitzgerald. Ela devora os livros de Augusto Cury, ele fazia o mesmo com os de Proust, seu escritor predileto. Essa discrepância no consumo de produtos culturais nunca foi barreira para que o relacionamento durasse quase três anos, todavia.

Júlio adorava presentear com livros em aniversários. Aliás, era a única coisa que presenteava; foi assim nos três últimos aniversários de Cássia. Ele perguntava qual livro ela queria ganhar e dava-a de presente; geralmente ela pedia algum de Augusto Cury ou Paulo Coelho, mas ele já não estava ao lado dela para perguntá-la qual livro desejaria ganhar de aniversário, tinha que fazer a escolha sozinho.

O relacionamento dos dois acabou de forma pouco agradável: uma amiga de Cássia disse que viu Júlio com outra garota. Embora Júlio negasse, a afirmação da amiga foi suficiente para Cássia pôr um ponto final no namoro

Era sábado, dia do aniversário, quando Júlio foi ao shopping comprar um livro para a aniversariante, como de praxe. Entre prateleiras e gôndolas de madeira cor de marfim, ele perambulava para saber qual livro dar a jovem moça. Ficou quase duas horas escolhendo.Os preços dos livros eram que faziam Júlio ficar mais tempo na livraria, onde não faltam livros bons, porém preços bons. Aí tinha que ficar garimpando algum livro promocional.

Precisava de um livro bom e barato. Dessa vez o “bom” era a seu critério. Queria comprar um livro de um grande autor, pois pensava que era hora de Cássia experimentar novas narrativas, capazes de levá-las a dimensões longínquas e prazerosas. Pensou em José Saramago, mas estava muito caro. Os livros no Brasil são muito caros. Não há como todo mundo ter acesso a esse material intelectual importantíssimo; Júlio sabia disso.  E sabia também que no Brasil o papel é isento de imposto, o que teoricamente deixariam os livros mais baratos. Acreditava que era uma forma de deixar a grande população bem longe da informação e conhecimento, reservando-os apenas para uma pequena elite econômica.

Mas, finalmente, ele encontrou um ouro. Não acreditou no que viu: Gabriel García Marques por quinze reais. Tratava-se de Memórias de minhas putas tristes, um clássico do autor colombiano. Ficou satisfeitíssimo com a compra. O livro era pequeno e tinha menos de cem páginas, e isso era bom para quem não tinha o hábito de leitura, pensava.

Era noite de sábado quando ele embrulhou o livro num papel com desenhos geométricos e se dirigiu até a casa de Cássia. Ia com a intenção de não demorar muito, pois havia mentido para sua namorada a respeito de sua ida à casa de Cássia. Essa ficaria brava se soubesse que Júlio foi ao aniversário da ex-namorada.

Em sessenta minutos Júlio já tinha degustando as iguarias, quitutes e bebidas alcoólicas e também entregado a aniversariante o presente, que o guardou sem mesmo abrir. Em seguida foi embora.

No dia seguinte Júlio recebeu um e-mail de Cássia como assunto “Seu imbecil”. Novamente Júlio pensou que se tratava de spam, mas resolveu abri-lo. Atônito leu sem entender direito o que Cássia havia escrito. Num texto confuso e sem coesão, ela dizia desaforos dos mais ofensivos a Júlio e terminou dizendo que ele era um filho da puta, pois puta era mãe dele e não ela.
A garota entendeu que o “putas”, contido no título do livro do escritor sul-americano, fazia referência a ela.


sexta-feira, 30 de julho de 2010

Verde-cento: a previsão de Elis

Elis acordava com o rádio. Só começava a se arrumar após ouvir o que o locutor tinha a dizer sobre seu signo. Era manicura e trabalhava a meia hora de sua casa  -  indo a pé -, mas se atrasava quase todo dia . Só ia se arrumar após ouvir sobre seu signo, pois tinha que se vestir conforme a cor indicada para aquele dia; a cor da sorte.

Certa vez o locutor terminou o programa com a previsão de peixes: “o dia será traquilo, ideal para renovar as energias e pensar no futuro. Se conservar esse equilíbrio poderá acontecer algo especial e inesperado; a cor da sorte para o dia é verde-cento”, finalizou. Elis nunca ouvira falar naquele verde e ficou sem saber o que iria usar para sair. Lembrou que uma vez lera numa revista de astrologia que a cor era muito importante para a realização das previsões, e, como ela tanto acreditava nessas, ficou tensa para saber que tipo de verde, que tonalidade, que nuance era aquele.

Resolveu ligar para Paulo, seu namorado, e pediu que procurasse descobrir e que comprasse alguma coisa com a tal cor, levando em sua casa o quanto antes. Paulo se quer acreditava em horóscopo; achava aquilo um capricho de uma menina maluca.  Argumentava que aquele dia seria especial e de grandes mudanças, mas precisava do verde-cento. Paulo não podia sair do trabalho, todavia. Mas pensou na hora de seu almoço. Pesquisou no Google sobre o verde informado por Elis. Saiu rapidamente à rua com um papel impresso com a cor do verde-cento. Resolveu entrar numa dessas lojas de variedades. Encontrou uma xícara. Rapidamente pegou um táxi. Elis esperava-o apreensiva e exasperada. Atônita, não acreditou no que Paulo havia comprado. Como iria sair com uma xícara?   Bradou!

Paulo explicou que não achou nada diferente, mas ela o colocou para fora aos berros, mesmo ele mostrando que, de fato, aquele era o verde-cento.

Não teve jeito: Elis teve que ir trabalhar. Colocou a xícara na bolsa e, mesmo chateada com o namorado por não comprar uma blusinha da moda com o tal verde-cento, ela estava aliviada por sair com a tal cor e aguardava a surpresa dos astros. Lembrou que tinha que ficar calma e traquila, pois, conforme a previsão, certamente uma surpresa iria acontecer. Assim acreditava. Chegou ao seu local de trabalho quase cinco horas atrasada. Foi chamada por sua patroa que a demitiu. Aceitou naturalmente a dispensa. Estava confiante que aquilo era o prelúdio de algo espetacular que iria acontecer, achava que fora demitida para mais tarde, naquele mesmo dia, encontrar um mala com milhares de reais ou arrumar um novo emprego e ser pedida em casamento, conforma a previsão dos astros.

Voltou para casa andando bem devagar pelas ruas, olhando para todos os lados, observando quase tudo; ela sabia que não podia ficar desempregada, mas o dia ainda não havia terminado, portanto, ainda estavam em vigor as previsões para peixes.  À noite chegou, todavia. Elisa começava a ficar tensa. Lembrava que não poderia ficar, pois a previsão falava de um estado de traquilidade. Mas ela nunca fora um menina traquila, capaz de manter calma numa situação dessas, que colocaria um limiar em sua vida. Já tinha marcado no relógio dez horas e ela estava tensa; chegou à conclusão que a xícara que o namorado trouxera não tinha adiantado nada. Ela nunca ouviu dizer que xícara dava sorte; sempre soube que quando informado a cor de sorte do dia, deveria vestir alguma roupa ou acessório.

Já estava nervosa, faltava apenas uma hora para terminar o dia e com ela a previsão de peixes. Começou a pensar que a culpa era de seu namorado, que em vez de roupa, trouxe xícara. Então ligou para ele. No telefone, num tom irritado, começou a insultá-lo, culpando-o da não realização da previsão. Ele, que já estava de saco cheio da história, rompeu o namoro. Elis dormiu com as lágrimas que vazaram de seus olhos.
Acordou com o programa de sempre no seu rádio ao lado de sua cama, mas violentamente o arremessou na parede.