domingo, 22 de março de 2009

Minúsculo e inútil tratado sobre a virtude: O reflexo e a reflexão


Não se trata apenas de mais uma crise existencialista, mas de uma investigação a cerca dos verdadeiros valores ao qual o homem tem dificuldade para o caminho da felicidade. Não é bom saber e aceitar que certos valores da sociedade contemporânea, valores estes deturpados, condicionam os entes a seguirem tais valores que tem por alicerce a irreflexão, a ideologia e os pré-conceitos fixados pela cultura, que de alguma forma torna-se comum, portanto natural.
Sou a favor de um novo olhar de tais valores que, por ora, são tão machistas quanto hipócritas.
Segundo Rousseau o ser humano é influenciado pelo meio que o determina, assim também se encontra as bases do pensamento behaviorista; acredito nesta máxima, sabendo claro, das fortes críticas por outros campos científicos e filosóficos. Acredito também que temos que parar no vago instante de reflexão (se é que temos) para fazermos e criarmos novos conceitos impostos pela cultura hegemônica branca. Quando isto acontece é sinal da própria maturidade intelectual ao qual colocar-nos em patamar elevado tão quanto a do caminho que nos levará a prazerosa atividade filosófica.
É justamente quando cada um abre seu caminho, onde a própria filosofia através do questionamento reflexivo pode nos colocar em um nível de segurança de paz e felicidade.
Quando cada ente, a partir da disposição, e outros olhares sobre seus valores sociais e pessoais, que ora podem ser idênticos e/ou equivocados, ascende-se a luz da reflexão A reflexão é quando o ente desenvolve o poder do olhar observador, para o devido afastamento do objeto e fará de forma sempre lúcida um pensar interrogatório sob tudo que o cerca. Este interrogatório é feito a si mesmo.
Vivemos em um momento de extrema confusão de valores, significados, conceitos. De um lado a ciência, do outros a teologia promovendo suas crises e próprias ilusões para apenas confundir em detrimento da iluminação.
Penso da emergência necessária de que todos possam partir de seus reais princípios para suas reflexões, e numa reflexão coletiva derrubaríamos obstáculos para a própria felicidade coletiva, pois se não há conforto para todos no meio em que vivemos não há de haver conforto individual. E, no entanto, só há conforto individual quando há conforto coletivo. A pedagogia de Paulo Freire se estrutura no olhar para o outro em detrimento de si mesmo. Quando o homem aceita o outro como objeto de sua felicidade, quando o homem perceber que sua felicidade depende da felicidade coletiva, pois senão a felicidade será travestida de medos, ilusões, isolamentos, solidão, pois o outro pode acabar com minha felicidade. Esse tipo de pensamento se evidencia na estúpida classe média falida brasileira, que enquanto não abrir mão do gozo individual para coletivizar, que enquanto não utilizar da força para explorar e roubar os mais fracos, que enquanto não souber compartilhar, dividir e apenas usar a astúcia para explorar, humilhar e dominar através de sua ideologia mesquinha e racista viverá com medo do outro; buscará caminhos e criará barreiras para se separar, se desvincular do outro. Todavia o outro está em cada esquina, aparece do lado de fora de seu mundo, ferindo sua alma; aparece pelo vidro, que embora o outro não o veja, ele ver o outro perfeitamente. “Preguiçosos”, “vagabundos”, “inúteis”, “perigosos”. Abrirão suas bocas sujas de creme de madeira sob comida requintada para dizer o que pensam, sem saber que nutrem em mentes administradas por psicanalista em consultório fino e elegante o auto-desprezo. Tem vergonha de seus peidos que fedem, não olham suas fezes que fedem, não olham suas almas podres, pois seus corpos são desinfetados com perfume francês; e suas almas, o que devem fazer? Renegá-las? E seus corpos depois de mortos, o que devem fazer para não entrar larvas e vermes pelo ânus? Queimá-las? E sua estupidez que degradam a sociedade com suas praticas subvertidas e mesquinhas, o que devem fazer? Passar para seus filhos? Os seus medos e horrores, ilusões, omissões e gargalhadas, odores, ódios e tatuagens, o que devem fazer? Estas as carregam pelo resto da vida.
Não cabe a mim estabelecer quais seriam os valores e vícios aqui, pois poderia me tornar, talvez, jactante, todavia penso da pertinência de pelo menos dizer a respeito do respeito, virtude precípua que deve ser reinterpretado de um outro olhar sobre seu significado, característica, importância e impactos. Do respeito poderíamos construir um arcabouço e elevar outros valores de patamares cada vez mais superiores como a tolerância, humanismo e equidade, embora, cada um “ache” que já sabe o que é que já tem. Quanto aos outros, façamos o mesmo.
E de praxe ouvirmos alguém dizer que é assim por que todo mundo faz assim. Mas é necessário este rompimento imediato desta correte irreflexiva e tola que se traduz apenas como um verme disseminando em carne podre. Ora, se eu ajo de tal forma por que todos agem assim contribuo para que continue desta forma e sendo espelho para o outros. Alias, acredito nesta afirmação importantíssima de que somos um espelho para o outro e quando isto entra na consciência humana e que todo agir humano segue este principio, estabeleceremos a paz perpétua. Cada um de nós somos agente de transformação, somos tanto influenciados quantos influenciadores. Isto é fato. Ninguém está agindo de certa maneira por que considera socialmente adequada, mas agem por influência do outro, pois pré-julgamos fazer com o outro aquilo que pensamos que o outro faria conosco. E se espelho do outro reflete no meu espelho, os espelhos têm de ser dupla face e apenas um reflexo convidando a reflexão.