terça-feira, 19 de julho de 2011

Boas vindas às revistas e aos cronistas.



Segundo o livro de José Sá, crônica é um gênero textual em formato de prosa prosaica, sem muitas pretensões nem pragmatismos.  O cronista fala das coisas corriqueiras do cotidiano das pessoas, mas o enxerga de forma sublime, perspicaz e, às vezes, jocosa.

O humorista Cláudio Manoel  – ele mesmo –  tem demonstrado substancial habilidade na escrita deste text kind, digamos, cujo sempre teve uma relação parental com o jornalismo. (A título de curiosidade, as escritoras Clarice Lispector e Rachel de Queiroz começaram a carreira na imprensa. A última foi a primeira cronista brasileira a escrever em jornais.)

Com a mesma habilidade do  casseta Manuel, a também comediante global de beleza exótica, Ingrid Guimarães, vem demonstrando o quanto sabe da arte do grande Rubem Braga.  Ele escreve para a revista masculina, de pouca vida, ALFA; ela para a também recém-lançada LOLA Magazine. Esta revista acredita que não exista só mulheres interessadas em receitas, beleza e celebridades. Aquela entende o homem mais  - eu sei que é clichê - cool, menos interessado em escândalos políticos, e menos ainda em resultado da economia global, sem deixar de considerá-lo inteligente, claro. Ambas as publicações têm menos de um ano de vida, foi lançada pela editora Abril, e são voltadas para o público  classe A. (Quiça AA.)

Como dizia, Cláudio Manuel e Ingrid são cronistas destas revistas. Escrevem bem, surpreendentemente.  Afinal, quando olhamos as bobagens que eles fazem na TV, deixa a entender que não passam de Antas semi-alfabetizadas em escola pública do Haiti. Ambos possuem habilidade estilística, domínio da norma culta, não erram na crase nem tropeçam na vírgula; são cronistas colossais. É só ler as revista deste mês. Cláudio cronica à respeito das atuais, e cada vez mais comuns, marchas, esse manifesto público resultados dos regimes democráticos. Ele dispara: “Quero deixar claro que não me oponho às marchas. Jamais marcharia contra elas”.

Já na edição deste mês de LOLA Magazine, Ingrid mostra o quanto é sensível ao cotidiano contemporâneo, resultado de uma vida de instabilidades e cobranças de todas as coordenadas geografica- sociais, para escrever o tal texto crônica. Vejamos: “Se for só mãe, não vou me sentir realizada profissionalmente! Se for workaholic, vou ser péssima mãe! Se não me cuidar, meu marido vai me largar! Se não organizar a casa, ela não anda! Se me preocupar demais, pode prejudicar  saúde! É , para ser saudável, tenho que viajar! Mas organizar a viagem toma tempo!

Lê-los é pegar a revista sem pretensão ou expectativa, como todo cronista e leitor destas. Afinal, a gente sempre acha que comediantes stund-up´s, acadêmicos alcoólatras, políticos decadentes, jornalistas incompetentes, celebridades emergentes e intelectuais descontentes, têm sempre algo melhor a dizer.


revistaalfa.abril.com.br
www.lolamag.abril.com.br

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A relação promíscua entre o jornalismo e a política

A sociedade brasileira vem experimentando os frutos de sua experiência democrática, observando o amadurecimento das instituições sociais, e reconhecendo estas como alicerces imprescindíveis para a estrutura sólida de uma democracia tão recente, frágil e, quiçá, infantil como a nossa. Neste afã, a imprensa exerce um papel importante como porta voz das demandas da sociedade e nas escolhas dos debates nas arenas do circuito de poder. Qual foi o papel dos jornalistas e do jornalismo para a contribuição no estabelecimento de um regime democrático de direito nas três últimas décadas?

As respostas, ou algumas delas, podem ser encontradas no livro Jornalismo e Política Democrática no Brasil, da jornalista Carolina Matos. O trabalho é fruto de uma pesquisa intensa, que resolveu analisar o posicionamento da grande mídia brasileira frente à campanha das Diretas Já, em 1984, e em três campanhas eleitorais para presidência da república: a de 1989, 1994 e 2002.

Não é novidade que a grande mídia, em muitos momentos, flertou com as instâncias políticas de poder, num jogo promíscuo de troca de favores e clientelismo. Todavia, a autora faz uma análise disto sem endossar um discurso bipolar - que ela mesma chama de ingênuo - que é apenas acreditar que os média apenas difundem o discurso das elites políticas dominantes, contribuindo, assim, para a permanência do status quo e do estabilisment da estrutura política. Carolina Matos prefere utilizar um método mais flexível, menos polarizado, como ela mesma afirma nas primeiras páginas do livro: “Neste trabalho, procurou-se não cair em nenhuma dessas armadilhas: seja analisar a mídia sob o prisma do pessimismo radical – aquele que não vê nada de bom ocorrer na esfera midiática, e que assim já declara um fracasso antecipado – ou num otimismo excessivamente apoiado numa visão de mídia como se esta fosse um amplo espaço de troca de ideias livres para o consumo”. Nesta perspectiva, o livro parece ser mais lúcido e menos impregnado de convicções ideológicas, tornando-o minimamente palatável.

No capítulo 1 (A mídia brasileira na berlinda: definindo uma agenda para o debate) Matos expõe de forma genérica, porém não pouco densa, uma introdução do trabalho e a perspectiva histórica da imprensa nacional. Já no capítulo 2 ela efetivamente começa seus estudos do posicionamento do jornal Folha de São Paulo na cobertura das campanhas das Diretas Já. Para tanto, a autora leu e comparou 871 matérias nos seis meses anteriores à votação da Emenda Dante de Oliveira, que previa a volta das eleições diretas para presidência da república. A partir destas matérias, que não foi só da Folha, Matos mostra o quanto o jornal paulista ficou claramente a favor das campanhas, não só através do teor da matérias,  como também em editoriais, sem esquecer de mencionar que o mesmo jornal, outrora, sustentou o próprio regime militar, agora é o mesmo que pede sua queda. A autora mostra como alguns críticos acusaram este posicionamento da Folha como mera jogada de marketing “adotada para dar impulso à imagem do jornal como principal veículo de comunicação que contribuiu para avançar na democracia”. É sempre bom lembrar que foi neste mesmo ano, conforme nos diz a autora, que a Folha de São Paulo, implantou a Reforma Folha, que trazia um novo modelo de jornalismo na estrutura organizacional do periódico, deixando o partidarismo de lado, tornando-o mais objetivo e plural, introduzindo as premissas do jornalismo liberal importado dos Estados Unidos, tratando as noticias agora, mais do que nunca, como mercadoria. Portanto, segundo Matos, esta foi a última vez que a Folha se engajou na defesa de um ideal político, mantendo-se a partir  de então uma postura mais neutra, não imparcial, todavia.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Semiótica: a ciência dos signos


O homem é um ser histórico-social, assim o é caracterizado pois é o único ser vivo que possui cultura; e só a possui pois foi capaz de criar linguagens para comunicar, socializar, compreender, relacionar etc. Sem a linguagem o homem não adquiriria cultura e não seria esse homem tal como entendemos.

A semiótica, disciplina que teve sua origem no século XIX, tem a linguagem como objeto de investigação. Toda produção humana estruturada numa complexidade lógica para comunicação é interesse desta ciência. Ela estuda os signos que são, digamos, representações de alguma coisa, ou como conceitua Piece, o signo é uma coisa que quer dizer outra coisa ou, como outro autor sugere, o signo é aquilo que está presente no lugar daquilo que está ausente.

Os signos são representações, estão ali para representar algo/ como o mofo em um pão, que significa que o produto está estragado, que não deve ser ingerido. Os signos, segundo a visão de Piece, se classificam em ícone, índice e símbolo, cujo primeiro é a relação de uma semelhança entre o signo e o referente; o índice é a relação direta entre signo e seu referente, e símbolo é a relação convencional entre eles.

A semiótica emergiu dentro do campo do saber humano num mesmo período, mas em lugares distintos. Nos Estados Unidos  surge com o filósofo-lógico Piece que estabelece uma relação trial com os signos: primeiridade, secundindade e terceiridade; a primeiridade seria o olhar do interpretante sobre os signos; a secundidade sua capacidade de relacionar, e a terceiridade seu conceito.

Na Europa ocidental foi o pai da lingüística moderna, Saussure, que pensava os signos numa perspectiva mais restrita, através do próprio campo da lingüística, ou seja, os signos são entendidos pelo sistema lingüístico. Saussure, ao contrário de Piece, estabelece uma relação dual como signo: significante-significado.

Já na Rússia revolucionária os experimentos científicos levaram, na mesma época de Piece e Saussure, a entender a relação dos signos na vida social, ou seja, os signos e as relações e as produções culturais. Einstein, um cineasta russo, procurou entender a lógica dos signos nas linguagens artísticas através do cinema, teatro, literatura, dentro de um movimento chamado poética russa, apoiado no estruturalismo lingüístico, todavia faltou um corpo teórico-cientifico na semiótica soviética. Assim. A semiótica estuda signos, entendendo seus significados, o significado da humanidade e suas produções diversas.