sexta-feira, 23 de abril de 2010

Raquel de Queiroz: Expoente da literatura sertaneja e das novas narrativas do Brasil

Mulher e nordestina. Raquel de Queiroz tinha duas características para ficar à margem de qualquer movimento intelectual e pioneiro no Brasil, nas primeiras décadas do século XX, se não fosse um detalhe: foi ela a pioneira. Isso tem um dimensão de maior importância quando esse espaço se dá na literatura, tradicionalmente dominado por escritores, ainda com suas narrativas esuropeizadas, onde as raízes do Brasil nordestino praticamente inexistiam.
Raquel de Quiroz inaugura na literatura brasileira, um narrativa de um Brasil pouco - ou nada- encontrado nas linhas e entre linhas de até então. Um Brasil excluído dos enredos de grandes escritores. Um Brasil sertanejo, peculiar e especial sob a ótica e a pena de uma mulhar, nordestina, intelectual e sertaneja. Foi a primeira mulher cronista na impresa brasileira; a única mulher escritora aceita como representante no movimento modernista brasileiro e a primera mulher eleita a ocupar a cadeira imortal da Academia Brasileira de Letras, também denominada de Grande Dama da Literatura Brasileira.
Raquel de Queiroz fixou um marco na história literária e social brasileira. Em seu romance de estréia, O quinze, cuja temática escolhida foi a grande seca que assolou o Ceará de 1915, sua prosa regionalista retrata, numa linguagem enxuta e expressiva, o nordeste brasileiro, onde consegue amalgamar a preocupação social à preucupação com traços psicológicos dos personagens, inaugurando no Brasil a vanguarda do romance sertanejo, que trouxe para nossa literatura um olhar sobre o Brasil, através de sua sensibilidade de mulher sertaneja, tornando-se a primeira porta voz do sertanejo em nossa literatura, mostrando sua preocupação com a temática social e política, como escritora nacionalista.

A importância e contribuição dessa escritora cearense extrapolam o ambiente literário. Nesse, sua importancia se traduz como pioneira e vanguardista de uma nova literatura, para formação das narrativas sobre o Brasil. Narrativas, cuja estética e valores tem no homem nordestino e sertanejo, novos significados e interpretações, revelando sua cultura, agruras e toda problemática que cerca o homem do sertão do nordeste brasileiro.

No campo sociológico, sua importancia não é menos relevante, pois contribuiu no sentido de resistir e enfrentar as disposições canônicas e a dominação masculina na literatura brasileira, onde a mulher praticamente esteve ausente, abrindo campo para atuação feminina em novos espaços de atuação no cenário intelectual do país, numa construção das relações sociais e de gênero.

Raquel não foi apenas uma escritora; foi uma escritora de vanguarda no movimento modernista brasileiro e pioneira na literatura regionalista sertaneja. Sua importância na literatura brasileira é incomensurável, por sua autenticidade e ineditismo na forma de escrever o Brasil desde então, estabelecendo um limiar na história literária nacional. Trata-se de uma eminente escritora, professora, cronista, poeta, romancista, jornalista e teatróloga, cuja importância será lembrada nos próximos séculos ao se discutir literatura de vanguarda, ruptura de padrões masculinos e, principalmente, o sertão do nordeste brasileiro. Talveaz as palavras que melhor traduzam a importância de Raquel sejam de Carlos Heitor Cony:" a literatura regional nasceu com Raquel de Queiroz, sozinha, sem padrinhos, no serão do Ceará".