sábado, 15 de outubro de 2011

O auxílio luxuoso do Tribuna da Bahia


Preparar um seminário para uma turma de estudantes de jornalismo nos dias atuais não é tão fácil quanto alguém possa imaginar. Eles, aliás, nós, geração Y, loucos por tecnologias da informação, mal prestamos atenção quando o colega vai explanar sobre algum tema lá na frente do quadro branco. Muitos com cabeças baixas, conectados à internet em seus smartphones, olham rapidamente com aquelas caras; aquelas caras mesmo de entediados.


Desta vez, todavia, estava disposto a acabar com isto; queria atenção. Não por vaidade –essa praga que destrói o bom espírito do homem – , mas, pois, era um tema importante; meus colegas precisavam entender um pouco daquilo que me foi proposto apresentar: a imprensa baiana frente a ditadura militar.


O que falar de novo sobre o assunto? Todo mundo sabe deste episódio nefasto da história recente. Qualquer estudante de jornalismo – quiçá qualquer pessoa alfabetizada – sabe que nesta época existia a censura, a tortura, sabe da história do AI 5, etc., etc., etc.


Eu precisava inovar, fazer um recorte específico do fato para garantir a atenção de minha audiência.
Um e-mail enviado pela coordenadora do curso falava de uma exposição em um shopping da cidade sobre os 40 anos da Tribuna da Bahia. Era o jornal que meu falecido pai lia todo dia. Lembrei-me dele sentado na rede da varanda com a Tribuna tomando quase todo seu minúsculo corpo já lívido pelo cansaço da quimioterapia.


Resolvi, então, resgatar a memória; a memória do meu pai, a memória da Tribuna, a memória da história, a memória da Bahia e do Brasil.


Era um domingo ensolarado na capital baiana quando fui à exposição. Belas fotografias, bons textos e uma surpresa: talvez meu pai não soubesse o que descobri ali: dad nasceu na mesma data que a Tribuna, só que cinco anos antes.


Voltei para casa com novas perspectivas para o seminário sobre a imprensa baiana e a ditadura. Já estava certo que iria falar sobre o surgimento da Tribuna da Bahia em pleno período militar, lembrando fatos marcantes deste periódico de resistência.


Achei minha idéia infalível. Meus colegas precisavam conhecer a historia deste jornal. Afinal, o relato jornalístico configura a realidade de cada tempo, de cada época, e esta, por sua vez, constitui a História.


O professor achou uma maravilha minha ideia, me deu dicas de pessoas que pude conversar, de livros que pude ler, tudo para enriquecer minha apresentação.


Chegou o grande dia depois de uma semana de preparação. Fui para frente da turma sentido aquele frio em todo o corpo. “Eles vão ter que prestar atenção do início ao fim”, pensava. É comum entra e sai de colegas e falta de atenção na hora da apresentação, mas desta vez eu, definitivamente, não queria isso no meu seminário.


Antes de começar, distribui aos 27 presentes a edição do dia do jornal. Gastei R$ 40,50. Foi uma forma interessante que encontrei para familiarizar aqueles que não eram familiarizados com jornal.


O slide começou com a primeira edição da Tribuna, que foi em 21 de outubro de 1969, com a manchete “Milhares de políticos são agora inelegíveis”. Neste momento contextualizei o surgimento do jornal e a época em que ele foi lançado, relatei alguns momentos em que a Tribuna preferiu optar pela coerência em detrimento da auto-censura e da omissão, garantido sua independência e autonomia.


Olhos atentos em mim. Nunca vi tamanha atenção da turma numa apresentação. Isso me deixava nervoso.  Era bem engraçado aquilo: eu estava com a primeira edição do jornal no slide e todos os meus colegas estavam com a última edição – a do dia, que dei-lhes no início.


A apresentação foi seguindo, meus colegas começaram a interagir, a fazer perguntas que às vezes eu não 
sabia responder, mas o professor, que foi repórter da Tribuna, me ajudava. 


Eu acabei a apresentação muito satisfeito; muitíssimo. Fui ovacionado e tudo. Eu não, a Tribuna, o mérito é todo dela, afinal, 40 anos com história é diferente de 40 anos de história.