quinta-feira, 18 de setembro de 2008

O magnífico sentimento sem corpo e sentido

È necessário sentir o sentido que antes não era ou não poderia ser sentido. Algumas vezes pensei que poderia sentir algo, simplesmente lembrei-me que não. De certa forma escolhi todas as formas de se tentar sentir. Por vezes pensei que poderia ser fácil. De certo, alguns sentimentos são bem mais fáceis de serem sentidos, principalmente o que se encontrão em qualquer léxico, outros precisam de uma experiência mais empírica. Precisa?

Era uma alegria enorme, as palavras escaparam a barreira de meus dentes como água em funil pequeno de metal; como poderia ser aquelas cinzas sólidas adquirindo cores mortas? Assim pensei que deveria ser minha alma sufocada por um ar nebuloso de tristezas rasas; meu âmago sem cor adquirindo cor para sentir algo. Aí, lembrei-me imediatamente de mamãe sorrindo em um dia especial; seus olhos negros e úmidos direcionados a mim fixadamente; o que deveria sentir?

Sentir. Durante muito tempo perguntei-me se poderia sentir. Pensei injusto que o meu deus pudesse, cruelmente, me roubar os sentimentos e os sentidos. Por isso pareço-me tão inseguro quando me defronto com a vida. Por tempos, também, esperava a morte; pensei na morte como rosas selvagens que seu perfume se mostra ao olfato aguçado de pessoas alegres quando estão a morrer, essas rosas. Todo o tormento me tinha impregnado de sensações que jamais poderia descrever-los, ao qual me transfigurava em outro ser que desconhecia.

Todo o dia sentia uma enorme vontade de viver; tinha uma sensação que estava morto; uma espécie de matéria inútil a vagar entre os entes invisíveis. Assim, pensei realmente que não amaria. De fato, conservo em minhas idéias a frustração de não querer algo que não posso ter. Não poderia lamentar-me a alguém de um corpo e uma alma insensíveis; já acreditava que não sentiria, mas desistir quando pensei estar sentindo algo. Aí veio o medo. Senti medo de sentir algo. Preferi sentir o medo. Tenho uma alma frágil que, talvez, não possa sentir outra coisa. É extremamente ruim não querer sentir; sim, não se trata de não poder sentir, mas não querer, penso que a utilidade é nula. Sentir pra quê? E o que sentir? Talvez sejam inúteis tais questionamentos, melhor não sentir mesmo nada. Mas, eu sei com essas coisas eu não brinco; sei que pode ser inevitável. Luto para que isso não venha acontecer, mas sinto que não tenho forças para me dar com essas coisas tão simplórias.

Devo confessar, envergonhadamente, que isso parece me encontrou; pragas! A mente pira, a realidade se desconfigura. Sinto-me um imbecil. Pronto! Estou sentindo, confesso novamente, não sei o quê, talvez possa se tratar de algo inócuo, mas, mesmo assim, sinto que algo estranho ao qual oscila tanto em minha mente infeliz me pegou. Ah, meu deus, o que pode ser? Incompetência minha. Pústulas malditas são o que devem ser em minha alma. Desgraças! Ora, isso se trata de abra do diabo.

É. O que farei agora? Andar pelas ruas como um tolo que pensa estar sentindo algo? Não sei. Sinto que isso não pode ser coisa boa, mas hesito em ponderar que sinto minha alma mais leve como algodão colorido em uma haste de plástico. Glorias! Grito, eu, glorias. O que sinto é algo que nem mesmo eu consigo sentir. Talvez seja apenas um idiota; essa resistência inútil. Essa coisa me pegou pelas entranhas com um cobre eletrocutado. E, afinal, pergunto-me agora todos os dias, o que estou sentido?

Aí, meu deus, não sei se isso é bom. E agora, o que faço, insisto na pergunta. Tentarei extirpar essa praga que deixa minha alma desnorteada. Desnorteada? É. Sinto-me um bobo, imbecil, excreto. Mas, o que pode fazer uma mera criatura divina ao se entregar a essa, maravilha?

Ora, logo eu, estufava o peito para dizer que jamais sentiria algo. Pena que sempre usei o verbo em futuro imperfeito. E agora, como posso me olhar no espelho? Gritos abafados e risonhos em meus ouvidos lembram-me que estar acontecendo algo comigo. Outro dia mesmo tive que trocar a estação do radio quando tocava aquela música de Chico que a Gal canta; sentir-me um ridículo.

Estou amarrado! Por que e por quem, não sei. Talvez seja isso bom, e talvez isso que, supostamente esteja sentindo possa não me amarrar, mas, sim, desfazer o nó para me deixar livre, mais livre; uma alma livre com sentimentos livres beijando o crepúsculo ao anoitecer para esperar o plenilúnio me encher o espírito de luz.

Insisto em negar a possibilidade de um sentimento que no fundo eu sei que se trata de algo tão comum quanto incomum. Que dicotomia será esta?
Agora, resta apenas me entregar a isso. Não sei bem o que poderá acontecer comigo. Sei: regarei com ouro liquido essas belas flores desconhecidas; talvez regue com acetona para ver que cores terão ao abrir-se. Terá?

O que pode ser isso, amor? Não sei. Mas cultivarei como rosas selvagens, não que eu já queira sua morte para prematuramente sentir seu perfume amargo, mas sinto que posso sentir algo tão esplendido e belo quanto uma vida morta querendo novamente viver; blindar a vida com sentimentos sinceros. Onde isso me levará? A loucura? Não sei. Talvez a essência de saber viver e se para viver é necessário sentir, quero sentir até a angústia por não sentir já que os sentidos são indecifráveis e os sentimentos incompreensíveis que então mergulhe, eu, nessa águas escuras de códigos magníficos. Magníficos? È! O amor é magnífico.

domingo, 14 de setembro de 2008

Discurso do método, meu caminho para a filosofia

Ora, não quero aqui fazer um plágio descarado da obra de Descartes, mas, assim como ele, quero mostrar o meu método para o caminho que, creio eu, levará ao conhecimento puro e pleno. Assim como Descartes, não quero ensinar, tampouco aconselho a seguir esse método tão simplista quanto inócuo. Todavia, quero mostrar a forma que encontrei para libertar meu espírito, ou pelo menos tentar libertá-lo.

Primeiramente, nem todos estão aptos para seguir a atividade filosófica; talvez nem eu. Não são todos que colocariam exatamente todo o conhecimento em avaliação. Descartes dizia só acreditar no que primeiramente duvidasse, neste caso, aqui, é o contrário. Não se trata apenas de auto-julgar o que se sabe( ou pensa saber ) mas também saber se já está apto para tal. Isso é um processo bastante “doloroso” que muitos não se submeteriam. Difícil ver aquilo que se imaginava saber descer pelo ralo na ignorância. È desmoronar tudo que se havia construindo através dos pré-conceitos e do conhecimento adquirido pela cultura para reconstruir-lo com os próprios esforços intelectuais.

Devo confessar que ainda estou nos primeiros passos; ainda estou colocando avaliação minhas idéias. Isso tem que ser perene, inclusive. Não se trata de algo sistemático mas é incrível como caímos em pegadinhas; a ignorância pode nos enganar. Pensei que sabia muito, mas sei pouco, muito pouco; talvez nada.

Minhas indagações acerca da existência de deus, que tanto penei em chegar a algum lugar, considero inútil. Convenço-me da inexistência de deus, pelo menos desse deus estabelecido pela cultura que o caracteriza e faz alegorias. Convenço-me de que tudo flui sem interferência celestial. Acredito no homem como configurador da realidade; apenas o homem é responsável pelo seu caminho.O homem é livre para fazer e para escolher o que ser.

Se deslaicizar, ou seja, excluir qualquer interferência divina do meu pensar, considerei um passo importante. Pensar com deus é limitado e talvez medíocre. A crença em deus me deixaria cômodo para buscar o conhecimento, por isso considero-me liberto. Essas questões sobre deus penso que cada um deve fazer da maneira que melhor lhe convir e fazer suas próprias conclusões, mas é preciso ter espírito de luz para não se deixar enganar por pequenas ilusões.

De fato, penso que a atividade filosófica é, ou pode ser um tanto que desesperadora. Quero dizer que, buscar o conhecimento sem saber aonde chegar (e se chegar) pode não ser tão confortável como aceitar os conhecimentos prontos. Penso que filosofia é para poucos pois trilhar um caminho e chegar a verdade e admitir que não pode ter certeza desta verdade não parece ser fácil.Neste sentido, talvez, que se digam que filosofia é inútil.Ora, de que serve a filosofia se não lhe diz ou explica nada? Esse pode ter sido o mal dos céticos ingleses, buscarem na filosofia a verdade absoluta.

Alguns podem achar frustrante seguir a filosofia para não chegar a lugar nenhum, mas penso que podemos ir muito longe com a filosofia, mesmo voltando ao mesmo lugar onde se partiu, mas essa viagem é fascinante e magnífica.

O filósofo não pode ser confundido com um sábio justamente porque esse, o sábio, é aquele que já tem a sabedoria, enquanto o filosofo busca essa sabedoria entendendo lucidamente que não terá essa, bastando apenas desejar-la, buscar-la.

Assim como Platão, penso que o primeiro passo para a filosofia é o admirar-se, espantar-se sobre as coisas que nos cercam, seus valores, sentidos, conteúdos, existência, por isso, exige dedicação e sobriedade para esse longo caminho onde cada um é o sujeito e objeto do seu próprio conhecimento. O princípio primeiro, a arché, do meu pensamento é a de ter plena consciência de não ter certeza de nada. Penso isso ser filosofia.

Juventude falida, gerações perdidas

Lamentável é ver como o capitalismo, nas entranhas da sociedade, é eficaz naquilo que se propõe. Uma juventude falida, a qual se encontra na sociedade brasileira, coloca todo o futuro da nação em uma grande crises de valores, comportamentos e posições ideológicas. Se pensávamos que Ditadura Militar acabou em 1985, estávamos enganados. Vivemos numas das mais cruéis e sangrentas Ditaduras. A Ditadura do Consumo. Os jovens são reféns do consumo estridente que devora as mentes como traças em pano. Um jovem há quarenta anos estava lendo Marx, Sartre, Proust; hoje, se lêem algo é Harry Poter ou Paulo Coelho. Lêem?

A juventude contemporânea está preocupada com o corpo e os gozos como cita o francês Charles Melman no seu livro “O homem sem gravidade, gozar a qualquer preço”. Preocupa-se muito com o imediatismo e os excessos. Coloca o prazer na frente do saber e a estética em detrimento da ética. Parecem loucos pelo celular; nunca vi tanta demência. Eu nisso tudo fico extremamente atônito, sem direção. Fácil é ser classificado e rotulado a bem querer por não seguir os clichezinho da sociedade e ainda ser acusado por insanos.

O negócio é serio; as crianças brincam de ser gente grande já podendo ser tratada como mercadorias pela Mattel; aprendem cedo a ser individualista e consumista. Fosse eu Deus, já fabricava as pessoas com Bluetooth para quando alguém quiser amar era só ligar o troço e passar para o outro todo o amor; quando alguém sentir ódio só era pedir para o outro ligar o Bluetooth e pronto; fazer sexo então, nem se fala. Hoje tudo tem que ser tão rápido e mecânico que não duvido.

Acredito também que existe uma indústria, que, como diria Descartes, seria planejada pelo coisa ruim para enganar os entes.Essa indústria , entendo eu, é a publicidade, ajudando os entes como um “grande amigo” nas suas escolhas. Tudo do jeito que o diabo gosta.Querido seria deus se estivesse enganado.Mas penso que não estou. As pessoas estão na grande ilusão que estão fazendo tudo o que querem, que ninguém interfere nas suas escolhas, nos seus comportamentos, que elas é quem escolhem o que bem entenderem sem ninguém se imiscuir. As pessoas estão realmente doentes. Creditam ao inexistente aquilo que não é real. Não sabendo o quê e quem comandam nossas vidas. È preciso usar escudo para não sermos devorados. Existe uma maquina que investe tudo pra nos perturbar. Isso vai da televisão até a política, da música a literatura, passando pelos conselhos de Edir Macedo e de Luciano Huck.

Enquanto o país sofre pelas mazelas sociais e a criminalidade em níveis insuportáveis, as pessoas elegem a mulher melancia. Paulo Maluf enche o rabo de dinheiro publico despreocupado, pois sabe que ainda vai ser o deputado mais votado de São Paulo, qualquer probleminha ele diz: “eu nego” e está tudo bem, de quebra ainda ganha quadros em programas de humor para as pessoas riem da tragédia. Enquanto o shopping está cheio de alienígenas drogados a polícia matou alguns na favela. Enquanto os ricos estão comprando seus carros, crianças os esperam mais na frente com a mão. Será que nosso cérebro está podre? Porque será que ficamos assim? Ficamos?

Acredito que os excessos da sociedade da tecnologia excessiva, onde tudo tem que ser fácil e rápido, as mentes agruras estão ficando confusas. Roubaram não só a Razão, mas também os sentidos. Uma espécie de loucura coletiva que as pessoas não percebem, pois acham que tudo isso é normal, porque é assim praticado por todos. Nesse ambiente qualquer um que venha a ter posições contrárias ao comum é excluído, ridicularizado e, esse sim, é que é chamado de louco.

Esdrúxulos comportamentos levar-nos a pensar sobre as transformações da sociedade sob o advento da pós-modernidade. Será que esse processo é realmente profícuo para a sociedade? Será que realmente isso nos evoluiu?Será que temos consciência do que fazemos?E a juventude, cadê? Se toda juventude viveu de utopias essa também deve ter alguma. Mas qual será a utopia desta juventude transviada? Uma calça jeans da Osklen ou um autógrafo da Madonna? Uma BMW ou um Visa Internacional?

Contudo, prefiro pensar sobre isso ouvindo meu LP de João Gilberto e fumando meu charuto Havana, assim minha mente conduzirá meu espírito em busca das possíveis respostas, enquanto os outros se olham no espelho e vão dormir pedindo a deus uma vaga no céu, mas o diabo os aguarda com as senhas e passaportes sorrindo como Silvio Santos.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Ah, como espero esse dia

Tinha lembrando aquela manhã, eu tinha acordado, fiquei mais um tempo na cama, pois gosto de ficar no quentinho de manhã cedo, ainda morrendo de sono.Como sempre era difícil levantar da cama, sempre fui muito preguiçoso; cultivo o ócio como margaridas em um jardim.Por isso, por adotar esse comportamento que fui mal interpretado, muitas vezes chamado de vagabundo, preguiçoso e até de veado; sofri por fazer o que a sociedade estabeleceu, mas infelizmente não cedi e paguei o preço da ignorância. É estranho você ter que pagar um preço por não ser ignorante, é extremante lamentável que nada vale o conhecimento; para você ser insultado pelos outros. Agora lembro como Bertrand Russel estava certo.

O dia estava frio, sinceramente, acho que não gosto de acordar para não lhe dar novamente com os humanos, essa raça maldita que me deixa infeliz; infeliz por saber que sou dessa raça maldita, portanto, maldito com todos. È pavoroso o que somos, ou o que nos tornamos; vivemos e pensamos com idiotas. Quem será que nos fizeram assim?
Pobre de nós, o mais ínfimo de todos, mas pensa ser bossa do fino, talvez a inocência dos outros animais é a prova que nos somos tolos.As vezes isso cansa; percebo muitas vezes minha lágrimas em meu rosto sem ter me dado conta; o sabor ruim, salgado, seca no rosto com o vento e ela pára não sei onde. Lembro-me sempre do vento, que com sua sabedoria enxugam minhas lágrimas; são o que tenho de mais precioso, rezo para que não me roubem. Lágrimas como meu ouro, o meu segredo maior de enigmas como as cores são aos olhos.

O dia estava nascendo, ouvir alguns gritos de criança chorando, percebi que uma criança estava sendo espancada e torturada por sua mãe com armas de gritos, ameaças e tapas além das torturam psicológicas; até hoje não entendo muito bem essa pedagogia da agressão. Só esperava que meu dia fosse tranqüilo, estou cansado desta vida, das pessoas; as relações humanas estão cada vez mais artificiais, talvez sempre foi como Rousseau afirmou tanto; uma época de grande confusão, de conflitos, de crises. Penso logo que meu tempo já está acabando, queria que se esgotasse logo, queria ver se existe logo outro lugar melhor para viver.

Espero a noite como girassóis a espera do dia. Necessito deleitar-me ao crepúsculo, e saboreia-me de meu gozo, único e puro. À noite me traz um sentido de angustia profunda, é estranho esperar pela angustia. A noite vem, de forma tão sutil aos olhos como aos abrir de uma rosa. A magnitude dessa essência mostra um harmonia da própria natureza, da natureza em si, guiada pelo que é, numa trajetória circular perfeita como a luz invade a escuridão.

Ah, como queria ver a noite cedendo lugar ao dia, e eu a espera, a expectativa de poder sair e brindar a vida, beijando a felicidade no vento, com as pessoas mais alegres e sinceras, sensíveis. Queria acordar e sentir tudo aquilo que esqueci de sentir, ou que de alguma forma, me roubaram ou eu vendi não sei bem como, nem a quem, muito menos o porquê. Pensei muito tempo que o sentido da vida era simplesmente viver, mas é muito mais do que isso, é muito mais do que dormir e acordar trabalhar, estudar e dormir. È muito mais do que ter ou esperar o dinheiro no bolso. È muito mais do que ficar esperando o tempo passar. Muito mais do que esperar envelhecer. Viver não é esperar morrer. È, sim, cultivar sentimentos humanos e não esperar apenas nossa felicidade individual; é olhar o outro com mais respeito.È amar verdadeiramente cada ente, esquecer o excesso de amor-próprio.

Todos os dias o sol nasce queimando meu rosto duro e úmido, resgatando minha esperança de ainda podermos viver como bons animais. Ah, como espero esse dia!