sexta-feira, 30 de julho de 2010

Verde-cento: a previsão de Elis

Elis acordava com o rádio. Só começava a se arrumar após ouvir o que o locutor tinha a dizer sobre seu signo. Era manicura e trabalhava a meia hora de sua casa  -  indo a pé -, mas se atrasava quase todo dia . Só ia se arrumar após ouvir sobre seu signo, pois tinha que se vestir conforme a cor indicada para aquele dia; a cor da sorte.

Certa vez o locutor terminou o programa com a previsão de peixes: “o dia será traquilo, ideal para renovar as energias e pensar no futuro. Se conservar esse equilíbrio poderá acontecer algo especial e inesperado; a cor da sorte para o dia é verde-cento”, finalizou. Elis nunca ouvira falar naquele verde e ficou sem saber o que iria usar para sair. Lembrou que uma vez lera numa revista de astrologia que a cor era muito importante para a realização das previsões, e, como ela tanto acreditava nessas, ficou tensa para saber que tipo de verde, que tonalidade, que nuance era aquele.

Resolveu ligar para Paulo, seu namorado, e pediu que procurasse descobrir e que comprasse alguma coisa com a tal cor, levando em sua casa o quanto antes. Paulo se quer acreditava em horóscopo; achava aquilo um capricho de uma menina maluca.  Argumentava que aquele dia seria especial e de grandes mudanças, mas precisava do verde-cento. Paulo não podia sair do trabalho, todavia. Mas pensou na hora de seu almoço. Pesquisou no Google sobre o verde informado por Elis. Saiu rapidamente à rua com um papel impresso com a cor do verde-cento. Resolveu entrar numa dessas lojas de variedades. Encontrou uma xícara. Rapidamente pegou um táxi. Elis esperava-o apreensiva e exasperada. Atônita, não acreditou no que Paulo havia comprado. Como iria sair com uma xícara?   Bradou!

Paulo explicou que não achou nada diferente, mas ela o colocou para fora aos berros, mesmo ele mostrando que, de fato, aquele era o verde-cento.

Não teve jeito: Elis teve que ir trabalhar. Colocou a xícara na bolsa e, mesmo chateada com o namorado por não comprar uma blusinha da moda com o tal verde-cento, ela estava aliviada por sair com a tal cor e aguardava a surpresa dos astros. Lembrou que tinha que ficar calma e traquila, pois, conforme a previsão, certamente uma surpresa iria acontecer. Assim acreditava. Chegou ao seu local de trabalho quase cinco horas atrasada. Foi chamada por sua patroa que a demitiu. Aceitou naturalmente a dispensa. Estava confiante que aquilo era o prelúdio de algo espetacular que iria acontecer, achava que fora demitida para mais tarde, naquele mesmo dia, encontrar um mala com milhares de reais ou arrumar um novo emprego e ser pedida em casamento, conforma a previsão dos astros.

Voltou para casa andando bem devagar pelas ruas, olhando para todos os lados, observando quase tudo; ela sabia que não podia ficar desempregada, mas o dia ainda não havia terminado, portanto, ainda estavam em vigor as previsões para peixes.  À noite chegou, todavia. Elisa começava a ficar tensa. Lembrava que não poderia ficar, pois a previsão falava de um estado de traquilidade. Mas ela nunca fora um menina traquila, capaz de manter calma numa situação dessas, que colocaria um limiar em sua vida. Já tinha marcado no relógio dez horas e ela estava tensa; chegou à conclusão que a xícara que o namorado trouxera não tinha adiantado nada. Ela nunca ouviu dizer que xícara dava sorte; sempre soube que quando informado a cor de sorte do dia, deveria vestir alguma roupa ou acessório.

Já estava nervosa, faltava apenas uma hora para terminar o dia e com ela a previsão de peixes. Começou a pensar que a culpa era de seu namorado, que em vez de roupa, trouxe xícara. Então ligou para ele. No telefone, num tom irritado, começou a insultá-lo, culpando-o da não realização da previsão. Ele, que já estava de saco cheio da história, rompeu o namoro. Elis dormiu com as lágrimas que vazaram de seus olhos.
Acordou com o programa de sempre no seu rádio ao lado de sua cama, mas violentamente o arremessou na parede.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Casamento homossexual: Argentina decide legalizar

Argentina opta em respeitar a diversidade sexual e torna-se o primeiro país da América Latina a legitimar o matrimônio homossexual.O fato que ganhou destaque na imprensa brasileira, e certamente a estrangeira, ocorreu na madrugada de ontem, numa sessão parlamentar que durou quatorze horas. Militantes que defendem o respeito homossexual acompanharam a sessão e vibraram com o resultado, claro. 

Mesmo metade dos argentinos se declararem católicos e um forte movimento contra a o matrimônio por parte dessa igreja, não foi o suficiente para o êxito da sessão. A igreja católica chegou a reunir passeatas para não ser votado o matrimônio, fato que demonstra o quanto seu discurso e atrasado e desrespeitoso. Negar a homossexualidade é uma tolice, e impedir sua união estável é querer que esses fiquem, talvez, numa vida promíscua, coisa que a igreja obomina. 

O fato serve de alerta para o demais países sulamericanos que desejam estabelecer um estado de direito, com respeito as diversidades e respeito a todas as minorias. A legalização do matrimônio homossexual deve ser uma luta de toda sociedade que se pretende ser livre e sem distinção de preferências sexuais. Admiitir e legalizar o casamento gay é um passo a frente de um estado que pretende uma unidade, respeitando as liberdades individuais inerente a todo homem e mulher.

sábado, 10 de julho de 2010

O mito de Homero e o nascimento da filosofia

O mito foi uma das primeiras formas de conhecimento do homem frente ao mistério do mundo que o permeiava; isso nos mostra que o homem não é o senhor de si; ele é independente do conhecido, porém torna-se dependente do que não é conhecido e sabido.

O poeta Homero, em  A Odisséia, narra a jornada do herói Odisseu em sua provações para o retorno de sua pátria, Ítaca, depois da guerra contra os troianos. Odisseu, homem inteligente, arguto, forte e de perene coragem é posto em situações intensas a qual sua coragem se impõe nessas provações.

A relação dos deuses com o herói é caracterizada por um fato peculiar: a maneira que esses deuses se mostram e se aproximam dos mortais acontece não de forma sobrenatual, mas, ao contrário, de forma bastante natural, através da propria natureza, demostrando a essência natural dos imortais.

A linguagem rica semanticamente, simbólica, metafórica nos coloca numa atmosfera sublime ao longo da narrativa da jornada do intrépido Odisseu. Curioso e intererrante é a maneira que se mostra aspectos culturais na obra, que, só lembrando, tem cerca de dois milenios e meio.

Porém é muito dificil para o homem contemporâneo alcançar a compreensão em plenitude de Odisséia; a compreensão simbólica, da representatividade que foi a obra e para o posterior surgimento da filosofia; damos importância aos aspectos literário e histórico. Além do mais, a compreensão da palavra "mito" conota algo fantasioso, irreal, lendoso.

A palavra mito vem do grego mythos, que significa contar, narrar, descrever. É preciso entender a obra do poeta Homero no significado grego da palavra, se não correremos risco de não entender a obra por outras dimensões.

Essa difícil compreensão torna-se evidente nos pré-socráticos, ou pensadores originários. O surgimento da filosofia, na região da Jônia, na cidade de Mileto, nos coloca numa dimensão bastante diferente da nossa
realidade, nos deixando, as vezes, confusos na sua interpretação.

Tales, o primeiro filosofo, é também o primeiro a falar da physis, a questionar o principio primeiro que permeia as coisas, o todo. Sua doutrina baseada em que "tudo é água", tudo se origina através da umidade da água, a vida se inicia com a água.

A physis dos originários é o surgimento , a existência, o acontecer, o existir, a totalidade de tudo, a plenitude da existencia, a flôr, a árvore, a água, o pensamento, a idéia, o surgimento, o ar, tudo é physis; o desabrochar do existente e seus desdobramentos.

 arqué é o princípio que tudo se origina, e tudo que aurge, que nasce, o não estático, o dinâmico, a lei que rege e governa, a base e sustentação para o brotar, o nascer, o surgir. O princípio, a dinamicidade que nasce, lei perene que governa.

Anaximandro vai pensar a arqué da physis como justiça (diké) do cosmo. Anaximenes vai pensar a arqué no ar, em sua rarefação/condensação, no pneuma; "tudo é ar".

Já para Platão é Aristóteles a arqué passa a ser o thaumas; o thaumas é a arqué da filosofia. O thaumas é o espanto, a admiração, a partir do momento que se espanta e se admira com algo, esse espantar-se, admirar-se o conduziria ao exercício da filosofia, a procurar de explicações racionais, explicações cujo o mito não preenche mais as lacunas do questionament, da dúvida, daí as discrepâncias dos conhecimento mítico do conhecimento filosófico; mito não é racional, não é confiável. Mas não podemos esquecer da suma importância do pensamento mítico para o homem grego e para a originação da propria filosofia e as consequencias para toda cultura ocidental.