sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O luxo e a luxúria de Rita Lee

“Mulher bem trepada” é assim que ela mesma costuma se definir. Mas já era de se esperar uma mulher sexualmente satisfeita quando observamos que as letras de duas músicas são volupioluxuriosa, mas sempre com requinte poético de alguém que não ver mal em falar na maravilha que é o sexo, aliás, nenhum mal hoje, no século vinte e um, mas quando se falava nisso há quarenta anos era outra história.

Ela é paulista, mas também ousada, no sentido literal da palavra. Ora, uma mulher cantando rock, falando de sexo, tocando guitarra não era coisa para mulher, quando se pensa que esse universo era masculinamente dominado. Mas contrariando os padrões culturais da época, Rita Lee disse: “Não nasci para casar e lavar cuecas!”. Se Rita Lee não nasceu para ser dona de casa ela nasceu para ser revolucionaria, pelo menos no que tange aos padrões femininos de uma época.

Sexo. Quando analisamos as músicas de Rita Lee o que mais ouvimos é a temática sexo. Se alguns afirmam que as musicas atuais, como o pagode e o funk carioca, não “prestam”, pois falam de sexo, então o que dizer da música de Rita Lee? Parece que a ruiva considerada a “titia do Rock brasileiro” tem hormônios permanentemente a flor da pela, na ponta da caneta e da língua. Então, a única conclusão que podemos tomar é pensar que a questão não é falar de sexo, mas como falar de sexo e Rita mostra competência quando poetiza um prática tão natural que é o sexo.

Rita parece incorporar o espírito de alguma deusa grega, ou ninfeta, quando discorre de forma livre, natural e bela o sexo e a sexualidade humana, assim como a mitologia da Grécia antiga; talvez Afrodite, a deusa do amor, do sexo e da beleza corporal, afinal na musica Banheira de Espuma ao qual convida alguém de corpo caliente para fazer massagem e relaxar a atenção em plena vagabundagem e no refrão diz: lá no reino de Afrodite, o amor passa dos limites, que quiser que se habilite o que não falta é apetite. Já na música Pega Rapaz Rita parece convidar alguém para umas das mais conhecidas posições sexuais: Pega rapaz, me pega rapaz, de frente de trás cada vez mais [...], tem tudo a ver o ser xaxim com minha trepadeira. Ora, se isso não se refere ao sexo, o que mais poderia nos remeter?

A mais célebre canção de Rita Lee, Mania de Você, parece uma canção de pós-sexo: Mania de você de tanto a gente se beijar, de tanto imaginar loucuras. Agente faz amor por telepatia[..] nada melhor do que não fazer nada, só pra deitar e rolar com você. Em Lança perfume Rita é mais clara: Eu sou neném só sossego com beijinho, ver se me dar o prazer de ter prazer comigo. Me gira de ponta à cabeça, me faz de gato e sapato, me deixa de quatro no ato, me enche de amor , nesta música Rita consegue a louvável perfeição de fazer uma metáfora poética da penetração peniana. Na música Bwama Rita afirma: te satisfazer é o meu prazer[...] e não tem culpa da boemia, volúpia[...] faço tudo por amor e os meus órgãos mais quentes lhe esperam. Mas é com Você na Mira que Rita é explicita: Quando eu nasci, minha mãe me dizia: tome com cuidado com o bicho-papão[...] o bicho papão virou me namorado[...] e brinca com a mãe dizendo na mesma música: brincar de médico é melhor que boneca e examina entre as pernas.

Ouvindo essa músicas talvez não percebamos da temática, quando nos deparamos com as atuais músicas, mas Rita tece a proeza de fazer do sexo, como temática da MPB, pioneira como ela foi, sem num tom lírico, poético. Rita consegue nos mostrar a beleza ao falar do sexo, mesmo quando sua voz parece de uma mulher no pré-orgasmo como em algumas músicas, como Eu e meu gato, onde Rita chega a gemer como se estivesse transando com o gato. A música é do Álbum Mania de você, de 1979, onde quase todas as músicas envolviam, mesmo de forma tímida, a temática sexo.

Sobre este disco o cantor Tom Zé explica que: Ele foi responsável pela educação sexual daquela época, com suas letras sexo-pedagógicas criando pelo fato de Rita ter encontrado um marido fantástico como o Roberto de Carvalho. Nunca vi uma pessoa se apaixonar tanto pelo pau de um namorado a ponto de tecer loas constantes e repetidas em tudo que cantava. No futuro, as moças podiam até reivindicar um pau como o que ela (Rita Lee) teve. Se Tom Zé exagerou ou não, o fato é que a titia do rock brasileiro é uma ninfeta na arte de compor, se em determinada musica ela diz não querer luxo nem lixo, parece que ela abre mão das duas para aderir à luxúria, sempre com maestria da poetiza erótica da musica brasileira.