sábado, 15 de outubro de 2011

O auxílio luxuoso do Tribuna da Bahia


Preparar um seminário para uma turma de estudantes de jornalismo nos dias atuais não é tão fácil quanto alguém possa imaginar. Eles, aliás, nós, geração Y, loucos por tecnologias da informação, mal prestamos atenção quando o colega vai explanar sobre algum tema lá na frente do quadro branco. Muitos com cabeças baixas, conectados à internet em seus smartphones, olham rapidamente com aquelas caras; aquelas caras mesmo de entediados.


Desta vez, todavia, estava disposto a acabar com isto; queria atenção. Não por vaidade –essa praga que destrói o bom espírito do homem – , mas, pois, era um tema importante; meus colegas precisavam entender um pouco daquilo que me foi proposto apresentar: a imprensa baiana frente a ditadura militar.


O que falar de novo sobre o assunto? Todo mundo sabe deste episódio nefasto da história recente. Qualquer estudante de jornalismo – quiçá qualquer pessoa alfabetizada – sabe que nesta época existia a censura, a tortura, sabe da história do AI 5, etc., etc., etc.


Eu precisava inovar, fazer um recorte específico do fato para garantir a atenção de minha audiência.
Um e-mail enviado pela coordenadora do curso falava de uma exposição em um shopping da cidade sobre os 40 anos da Tribuna da Bahia. Era o jornal que meu falecido pai lia todo dia. Lembrei-me dele sentado na rede da varanda com a Tribuna tomando quase todo seu minúsculo corpo já lívido pelo cansaço da quimioterapia.


Resolvi, então, resgatar a memória; a memória do meu pai, a memória da Tribuna, a memória da história, a memória da Bahia e do Brasil.


Era um domingo ensolarado na capital baiana quando fui à exposição. Belas fotografias, bons textos e uma surpresa: talvez meu pai não soubesse o que descobri ali: dad nasceu na mesma data que a Tribuna, só que cinco anos antes.


Voltei para casa com novas perspectivas para o seminário sobre a imprensa baiana e a ditadura. Já estava certo que iria falar sobre o surgimento da Tribuna da Bahia em pleno período militar, lembrando fatos marcantes deste periódico de resistência.


Achei minha idéia infalível. Meus colegas precisavam conhecer a historia deste jornal. Afinal, o relato jornalístico configura a realidade de cada tempo, de cada época, e esta, por sua vez, constitui a História.


O professor achou uma maravilha minha ideia, me deu dicas de pessoas que pude conversar, de livros que pude ler, tudo para enriquecer minha apresentação.


Chegou o grande dia depois de uma semana de preparação. Fui para frente da turma sentido aquele frio em todo o corpo. “Eles vão ter que prestar atenção do início ao fim”, pensava. É comum entra e sai de colegas e falta de atenção na hora da apresentação, mas desta vez eu, definitivamente, não queria isso no meu seminário.


Antes de começar, distribui aos 27 presentes a edição do dia do jornal. Gastei R$ 40,50. Foi uma forma interessante que encontrei para familiarizar aqueles que não eram familiarizados com jornal.


O slide começou com a primeira edição da Tribuna, que foi em 21 de outubro de 1969, com a manchete “Milhares de políticos são agora inelegíveis”. Neste momento contextualizei o surgimento do jornal e a época em que ele foi lançado, relatei alguns momentos em que a Tribuna preferiu optar pela coerência em detrimento da auto-censura e da omissão, garantido sua independência e autonomia.


Olhos atentos em mim. Nunca vi tamanha atenção da turma numa apresentação. Isso me deixava nervoso.  Era bem engraçado aquilo: eu estava com a primeira edição do jornal no slide e todos os meus colegas estavam com a última edição – a do dia, que dei-lhes no início.


A apresentação foi seguindo, meus colegas começaram a interagir, a fazer perguntas que às vezes eu não 
sabia responder, mas o professor, que foi repórter da Tribuna, me ajudava. 


Eu acabei a apresentação muito satisfeito; muitíssimo. Fui ovacionado e tudo. Eu não, a Tribuna, o mérito é todo dela, afinal, 40 anos com história é diferente de 40 anos de história.                                                                                
                                                                                                                                           

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Quando o cidadão assume o papel do jornalista


O que é ser jornalista? Embora infantil, a pergunta torna-se pertinente no cenário contemporâneo, principalmente no Brasil, onde recentemente a identidade jornalística tem sido objeto de discussão entre teóricos, seja pela não mais obrigatoriedade de diploma, seja pela emergência de novas mídias, seja pelos recursos multimidiáticos de celulares, por exemplo, fazendo com que qualquer pessoa seja capaz de coletar, produzir e divulgar informação, justamente a atividade do jornalista.

O celular e a internet tornaram o cidadão em potencial repórter do cotidiano. Muitas vezes, o próprio veículo de comunicação utiliza dos produtos produzidos pelo usuário comum como fonte ou complemento para informar o público.

Mais é preciso cautela. Isso não dá ao cidadão, mesmo quando testemunha ocular do fato, a condição de jornalista. 

O jornal A Tarde (BA) denomina de repórter cidadão as pessoas comuns que colaboram com o periódico. Mas precisamos conceituar precisamente este potencial colaborador, que é cidadão, mas não é repórter. A proposta aqui não é desmerecer o cidadão que participa da produção do jornalismo, mas situá-lo apenas como tal. A própria crise de identidade do jornalismo, com a derrubada do diploma, fazendo supor que qualquer pessoa possa ser jornalista, aliado ao recurso fácil de divulgação de conteúdo através da internet, pode confundir se o cidadão é ou não jornalista; se o que ele produz é ou não jornalismo.

O jornalismo pressupõe a captura e a divulgação das notícias, levando em conta o princípio da deontologia jornalística, o tratamento estilístico do texto e a hierarquização das informações. Por mais que o cidadão mande foto, vídeo e texto para a imprensa, ou mesmo divulguem-nas pela internet, ele não é um jornalista.

E por não sê-lo, desconhece a ética da prática profissional, o que pode, em algumas situações, acabar querendo lograr proveito próprio em cima da informação que a detém. Desta forma, tende a querer vender uma foto, um vídeo ou mesmo cobrar para ser entrevistado, quando percebe que possui exclusividade. Isso coloca o jornalista numa situação delicada; sabendo da importância do material jornalístico na mão do cidadão, mas da impossibilidade de consegui-lo. Afinal, sabemos que comprar informações - o chamado journalism check-book - não é eticamente adequado.

Sem esse cuidado ético, do senso do limite entre a informação precisa e o sensacionalismo, o cidadão tropeça por não conhecer os princípios da deontologia jornalística. Acaba produzindo material que vai muito além da informação necessária - isso quanto efetivamente é necessária. Fotos, vídeos e relatos que beiram o bizarrismo, a falta de senso humanitário e o grotesco podem permeiar esses materiais produzidos pela gente comum do dia a dia.

Quando o material é repassado para o jornalista profissional, este, supõem-se, deve fazer o tratamento pertinente do material amador; mas quando o próprio produtor resolve disponibilizar pela internet, por exemplo, a situação fica mais complicada.

O cidadão sabe do seu potencial repórter eventual que pode se tornar. Testemunha o fato atentamente, vive com o celular em ponto para captar uma foto ou um vídeo de um acidente na rua, ou mesmo algo hilário, exótico ou insólito. Mas nesse afã de produzir material exclusivo, talvez um senso jornalístico, pode levá-lo a sórdida frieza. Em um acidente qualquer, as pessoas se preocupam mais em captar o fato com o celular, que providenciar ajuda ou socorro. Num fato de interesse particular, a privacidade de outrem pode acabar sendo revelada pela falta de recursos éticos, que muitas vezes o cidadão comum não sabe.

O cidadão é necessário na produção dos jornais. É ele que compõem grande parte do material divulgado pela imprensa, com personagens que ilustram as reportagens. Todavia, essa relação precisa ser claramente delineada. O cidadão jamais será um jornalista. Ele é um colossal colaborador do jornalismo, mas é preciso colocar cada qual no seu cada qual.


terça-feira, 19 de julho de 2011

Boas vindas às revistas e aos cronistas.



Segundo o livro de José Sá, crônica é um gênero textual em formato de prosa prosaica, sem muitas pretensões nem pragmatismos.  O cronista fala das coisas corriqueiras do cotidiano das pessoas, mas o enxerga de forma sublime, perspicaz e, às vezes, jocosa.

O humorista Cláudio Manoel  – ele mesmo –  tem demonstrado substancial habilidade na escrita deste text kind, digamos, cujo sempre teve uma relação parental com o jornalismo. (A título de curiosidade, as escritoras Clarice Lispector e Rachel de Queiroz começaram a carreira na imprensa. A última foi a primeira cronista brasileira a escrever em jornais.)

Com a mesma habilidade do  casseta Manuel, a também comediante global de beleza exótica, Ingrid Guimarães, vem demonstrando o quanto sabe da arte do grande Rubem Braga.  Ele escreve para a revista masculina, de pouca vida, ALFA; ela para a também recém-lançada LOLA Magazine. Esta revista acredita que não exista só mulheres interessadas em receitas, beleza e celebridades. Aquela entende o homem mais  - eu sei que é clichê - cool, menos interessado em escândalos políticos, e menos ainda em resultado da economia global, sem deixar de considerá-lo inteligente, claro. Ambas as publicações têm menos de um ano de vida, foi lançada pela editora Abril, e são voltadas para o público  classe A. (Quiça AA.)

Como dizia, Cláudio Manuel e Ingrid são cronistas destas revistas. Escrevem bem, surpreendentemente.  Afinal, quando olhamos as bobagens que eles fazem na TV, deixa a entender que não passam de Antas semi-alfabetizadas em escola pública do Haiti. Ambos possuem habilidade estilística, domínio da norma culta, não erram na crase nem tropeçam na vírgula; são cronistas colossais. É só ler as revista deste mês. Cláudio cronica à respeito das atuais, e cada vez mais comuns, marchas, esse manifesto público resultados dos regimes democráticos. Ele dispara: “Quero deixar claro que não me oponho às marchas. Jamais marcharia contra elas”.

Já na edição deste mês de LOLA Magazine, Ingrid mostra o quanto é sensível ao cotidiano contemporâneo, resultado de uma vida de instabilidades e cobranças de todas as coordenadas geografica- sociais, para escrever o tal texto crônica. Vejamos: “Se for só mãe, não vou me sentir realizada profissionalmente! Se for workaholic, vou ser péssima mãe! Se não me cuidar, meu marido vai me largar! Se não organizar a casa, ela não anda! Se me preocupar demais, pode prejudicar  saúde! É , para ser saudável, tenho que viajar! Mas organizar a viagem toma tempo!

Lê-los é pegar a revista sem pretensão ou expectativa, como todo cronista e leitor destas. Afinal, a gente sempre acha que comediantes stund-up´s, acadêmicos alcoólatras, políticos decadentes, jornalistas incompetentes, celebridades emergentes e intelectuais descontentes, têm sempre algo melhor a dizer.


revistaalfa.abril.com.br
www.lolamag.abril.com.br

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A relação promíscua entre o jornalismo e a política

A sociedade brasileira vem experimentando os frutos de sua experiência democrática, observando o amadurecimento das instituições sociais, e reconhecendo estas como alicerces imprescindíveis para a estrutura sólida de uma democracia tão recente, frágil e, quiçá, infantil como a nossa. Neste afã, a imprensa exerce um papel importante como porta voz das demandas da sociedade e nas escolhas dos debates nas arenas do circuito de poder. Qual foi o papel dos jornalistas e do jornalismo para a contribuição no estabelecimento de um regime democrático de direito nas três últimas décadas?

As respostas, ou algumas delas, podem ser encontradas no livro Jornalismo e Política Democrática no Brasil, da jornalista Carolina Matos. O trabalho é fruto de uma pesquisa intensa, que resolveu analisar o posicionamento da grande mídia brasileira frente à campanha das Diretas Já, em 1984, e em três campanhas eleitorais para presidência da república: a de 1989, 1994 e 2002.

Não é novidade que a grande mídia, em muitos momentos, flertou com as instâncias políticas de poder, num jogo promíscuo de troca de favores e clientelismo. Todavia, a autora faz uma análise disto sem endossar um discurso bipolar - que ela mesma chama de ingênuo - que é apenas acreditar que os média apenas difundem o discurso das elites políticas dominantes, contribuindo, assim, para a permanência do status quo e do estabilisment da estrutura política. Carolina Matos prefere utilizar um método mais flexível, menos polarizado, como ela mesma afirma nas primeiras páginas do livro: “Neste trabalho, procurou-se não cair em nenhuma dessas armadilhas: seja analisar a mídia sob o prisma do pessimismo radical – aquele que não vê nada de bom ocorrer na esfera midiática, e que assim já declara um fracasso antecipado – ou num otimismo excessivamente apoiado numa visão de mídia como se esta fosse um amplo espaço de troca de ideias livres para o consumo”. Nesta perspectiva, o livro parece ser mais lúcido e menos impregnado de convicções ideológicas, tornando-o minimamente palatável.

No capítulo 1 (A mídia brasileira na berlinda: definindo uma agenda para o debate) Matos expõe de forma genérica, porém não pouco densa, uma introdução do trabalho e a perspectiva histórica da imprensa nacional. Já no capítulo 2 ela efetivamente começa seus estudos do posicionamento do jornal Folha de São Paulo na cobertura das campanhas das Diretas Já. Para tanto, a autora leu e comparou 871 matérias nos seis meses anteriores à votação da Emenda Dante de Oliveira, que previa a volta das eleições diretas para presidência da república. A partir destas matérias, que não foi só da Folha, Matos mostra o quanto o jornal paulista ficou claramente a favor das campanhas, não só através do teor da matérias,  como também em editoriais, sem esquecer de mencionar que o mesmo jornal, outrora, sustentou o próprio regime militar, agora é o mesmo que pede sua queda. A autora mostra como alguns críticos acusaram este posicionamento da Folha como mera jogada de marketing “adotada para dar impulso à imagem do jornal como principal veículo de comunicação que contribuiu para avançar na democracia”. É sempre bom lembrar que foi neste mesmo ano, conforme nos diz a autora, que a Folha de São Paulo, implantou a Reforma Folha, que trazia um novo modelo de jornalismo na estrutura organizacional do periódico, deixando o partidarismo de lado, tornando-o mais objetivo e plural, introduzindo as premissas do jornalismo liberal importado dos Estados Unidos, tratando as noticias agora, mais do que nunca, como mercadoria. Portanto, segundo Matos, esta foi a última vez que a Folha se engajou na defesa de um ideal político, mantendo-se a partir  de então uma postura mais neutra, não imparcial, todavia.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Semiótica: a ciência dos signos


O homem é um ser histórico-social, assim o é caracterizado pois é o único ser vivo que possui cultura; e só a possui pois foi capaz de criar linguagens para comunicar, socializar, compreender, relacionar etc. Sem a linguagem o homem não adquiriria cultura e não seria esse homem tal como entendemos.

A semiótica, disciplina que teve sua origem no século XIX, tem a linguagem como objeto de investigação. Toda produção humana estruturada numa complexidade lógica para comunicação é interesse desta ciência. Ela estuda os signos que são, digamos, representações de alguma coisa, ou como conceitua Piece, o signo é uma coisa que quer dizer outra coisa ou, como outro autor sugere, o signo é aquilo que está presente no lugar daquilo que está ausente.

Os signos são representações, estão ali para representar algo/ como o mofo em um pão, que significa que o produto está estragado, que não deve ser ingerido. Os signos, segundo a visão de Piece, se classificam em ícone, índice e símbolo, cujo primeiro é a relação de uma semelhança entre o signo e o referente; o índice é a relação direta entre signo e seu referente, e símbolo é a relação convencional entre eles.

A semiótica emergiu dentro do campo do saber humano num mesmo período, mas em lugares distintos. Nos Estados Unidos  surge com o filósofo-lógico Piece que estabelece uma relação trial com os signos: primeiridade, secundindade e terceiridade; a primeiridade seria o olhar do interpretante sobre os signos; a secundidade sua capacidade de relacionar, e a terceiridade seu conceito.

Na Europa ocidental foi o pai da lingüística moderna, Saussure, que pensava os signos numa perspectiva mais restrita, através do próprio campo da lingüística, ou seja, os signos são entendidos pelo sistema lingüístico. Saussure, ao contrário de Piece, estabelece uma relação dual como signo: significante-significado.

Já na Rússia revolucionária os experimentos científicos levaram, na mesma época de Piece e Saussure, a entender a relação dos signos na vida social, ou seja, os signos e as relações e as produções culturais. Einstein, um cineasta russo, procurou entender a lógica dos signos nas linguagens artísticas através do cinema, teatro, literatura, dentro de um movimento chamado poética russa, apoiado no estruturalismo lingüístico, todavia faltou um corpo teórico-cientifico na semiótica soviética. Assim. A semiótica estuda signos, entendendo seus significados, o significado da humanidade e suas produções diversas.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Jornalismo na Internet: guia prático para ciberjornalista


Os avanços cada vez mais velozes no campo da tecnologia da comunicação exigem um jornalista capaz de avançar seus domínios, nesta área, na mesma velocidade em que outras mídias e diferentes ferramentas emergem. Nos últimos anos, principalmente quando da abertura comercial da internet, o conceito de jornalismo multimídia vem sendo discutido com frequência, e ninguém mais discute a importância deste profissional lidar com novas plataformas de comunicação; a internet e as redes sociais deixaram claro o quanto esse domínio não apenas é importante, como imprescindível.

Neste contexto surge o Jornalismo na Internet (ed. Summus, 246 págs.), de J.B. Pinho, para estudantes e profissionais de jornalismo interessados em aprender princípios e técnicas básicas para a mídia revolucionária, que é a Web. Trata-se de um guia prático para aqueles que desejam entender a internet e a Web como mídia de comunicação, e nela desenvolver seu trabalho com eficiência e autonomia.

O Jornalismo na Internet pode ser óbvio para uns e didático para outros, na medida em que o autor traça nas primeiras sessenta páginas do livro, um apanhado histórico do computador, desde os experimentos norte-americanos, bélicos e acadêmicos, passando pelo desenvolvimento e o avanço da Arpanet, até desbancar na mais interessante parte da internet, que é a Web, a famosa WWW. J.B. Pinho traça um cronograma dos principais avanços da informática, inclusive conceituando termos comuns, como HTML, HTTP e URL.  Para os que já estão acostumados e familiarizados com essas ferramentas tecnológicas comunicacionais, o livro pode ser um tédio; o autor explica o que é internet e suas ferramentas como se fosse para alguém que nunca viu um computador na vida. Lá é explicado até como anexar um arquivo num e-mail. Por outro lado, o livro pode ser, ainda que no início, muito prazeroso para os jornalistas mais velhos e com formação mais tradicional, que vão buscar reciclar-se. Porém, é bom não esperar conceitos jornalísticos complexos e surpreendentes, até por que falta autonomia para J.B. Pinho: ele é formando em Publicidade e Propaganda.

O livro começa a ter cara de assunto para jornalista quase na página cem. É aí que o autor começa a falar sobre a linguagem jornalística para a internet. Primeiro enumera algumas características da Web, diferenciando-a de outras mídias, que são fisiologia, não-linearidade, instantaneidade, dirigibilidade, qualificação, custos de produção, interatividade e pessoalidade. O autor bate na tecla diversas vezes, dizendo que o texto jornalístico para a Web deve ser cinquenta por cento mais curto que o do papel. Isso se deve, segundo ele, pela ainda não cultura de se ler pela internet, aliado a dificuldade fisiológica, que é a tela do computador para leitura, somando-se a isso a hiperatividade do internauta, que facilmente poderá encontrar outro canal para se informar caso não o interesse o que lê. Para que isso não aconteça ele dá uma dica: títulos de até 160 caracteres, a fim de ser mais prático nos mecanismo de busca, como o Google.

Para finalizar J.B. Pinho também explica a importância de um bom planejamento gráfico para sites jornalísticos. Segundo ele, os valores estratégicos de um portal noticioso são a identidade, impacto, audiência e competividade. Na fase do processo criativo, na elaboração do próprio portal, não pode faltar expansão, contração e pré-produção. E aqueles que estão pensando em montar um sítio na internet, as dicas do autor são: planejamento, designer, implementação, teste e suporte.

Aos que o livro possa interessar, ele pode ser encontrado nas livrarias físicas e virtuais a preço médio de R$ 30,00.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Edison Carneiro: jornalista e etnólogo à frente do seu tempo


As primeiras décadas do século passado foram marcadas – também - por esforços de intelectuais como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Hollanda, Caio Prado Jr, só para citar alguns, para esboçar os traços históricos do país e a construção de uma identidade como nação recém saída do regime escravocrata e monárquico. Neste contexto, o advogado de formação e jornalista e etnólogo por opção, Edison Carneiro, baiano, não economizou esforços para entender e difundir aspectos da cultura brasileira, mais precisamente a de origem afro.

Toda a trajetória deste intelectual que viveu nos anos 30 do século passado é narrada no livro homônimo, do jornalista Biaggio Talento e o historiador Luiz Alberto Couceiro. A biografia faz parte da coleção Gente da Bahia, editada pela Assembleia Legislativa da Bahia, que ainda retrata grandes nomes da cultura baiana, como Riachão, Pastinha, Carybé e Guido Guerra.

Mulato, de família sem muitos recursos matérias, Edison Carneiro dedicou-se quase a vida inteira, na Bahia e no Rio da Janeiro onde morou por algum tempo, na pesquisa sobre a cultura de matriz africana. Quem estuda o candomblé, por exemplo, não poderia deixar de ler o seu mais famoso livro, O candomblé da Bahia. Edison sempre procurou valorizar os cultos afros e toda forma de representatividade cultural oriunda da África. Num período em que a policia reprimia o culto afro na cidade e os jornais baianos publicavam matérias depreciativas sobre a prática da religião, Edison foi um dos primeiros jornalistas a escrever em jornais, textos que valorizavam a cultura e as religões negras, respaldado em suas pesquisas de campo em terreiros da capital baiana.

Muito amigo de Jorge Amado, Edison teve textos elogiados por pesquisadores estrangeiros, além de intelectuais brasileiros, como os já citados Freire e Sérgio Buarque de Holanda. Pouco conhecido do público, o livro retrata a vida e a obra deste intelectual baiano, mas também todo um contexto sócio-cultural e político baianos daquela época. Vale a pena lê-lo.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Homossexualidade: avanços e retrocessos

Nas últimas semanas o tema homossexualidade tem ganhado destaque nos noticiários nacionais, seja pelo reconhecimento do STF - a corte brasileira -, na união estável homoafetiva, seja pelas esdrúxulas opiniões homofóbicas do deputado Jair Balsonaro, seja pela proibição do tal kit-gay nas escolas públicas do país e, por fim, pelo primeiro beijo gay em telenovela brasileira, que foi ao ar há poucas semanas. O fato é que o tema está em evidência.

As discussões à cerca das liberdades fundamentais e individuais numa sociedade democrática como a nossa devem ser realimentadas. É legítimo que cada um tenha o direito em optar por sua sexualidade sem interferência de nenhuma instituição - nem mesmo a Família - sobre o assunto.  Ninguém pode se imbuir de legalidade para autorizar ou não com quem cada um vai  estabelecer relações afetivas-sexuais, que não o próprio indivíduo. A Carta Magna de 1988 garante uma democracia, e esta só é plena quando é cumprida  e respeitada plenamente. A recente decisão do Supremo Tribunal Federal dá luz a essa perspectiva, na medida em que garante a igualdade, do ponto de vista jurídico, de todos cidadãos. Este ano o Estado brasileiro, representado pelo STF, mostrou à sociedade que podemos construir uma nação onde as discriminações sejam cada vez menores.

Embora tímidos, o Brasil vem experimentado avanços no reconhecimento legítimo da união homossexual. Infelizmente, decisões mais significativas não passam pelo Congresso Nacional, por conta da bancada evangélica, que insiste num discurso vazio, irracional, quiça burro. A lei da Homofobia, que criminaliza a violência em decorrência de ódio ao homossexual, não consegue aprovação; será mesmo racional uma mente que acredite que não deva ser punido quem agride ou mata alguém em virtude de sua sexualidade?

Se, de um lado, o Poder Legislativo impede qualquer avanço sobre o tema, o Poder Executivo, por outro, tem mostrado, nos últimos anos, sensibilidade com ações de inclusão dessa minoria, no âmbito de sua competência, através de portarias e decretos, que não precisam da burocracia legislativa. É o caso na Agência Nacional de Saúde (ANS), que desde esse ano obriga os planos de saúde a aceitarem o parceiro homossexual como dependente; a Receita Federal desde o ano passado já considera o companheiro gay na dedução do imposto de renda; o Conselho Federal de Medicina, a partir deste ano, aceita que um casal gay possa recorrer à reprodução assistida; há cerca de três anos o Sistema Único de Saúde (SUS), oferece gratuitamente a cirurgia de mudança de sexo. São mudanças sutis, mas a longo prazo, talvez possam trazer efeitos positivos. 

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sylvia Patricia lança novo disco em Salvador


Depois de mais de um ano, a cantora Sylvia Patrícia volta a sua casa, na Sala do Couro do Teatro Castro Alves, em Salvador, para apresentar seu mais recente trabalho, o disco Andante, lançado pela Lua Music.

Seria uma indelicadeza rotulá-la como pop/rock. Sylvia ganhou prêmio Sharp de música em 1988, como cantora revelação na categoria; mas seria limitá-la se assim fizesse. Talvez seja uma Cássia Eller sem sucesso, pois Sylvia não tem sucesso.

No show apresentado ontem, a cantora depois de uma temporada de 140 shows fora do país, apresentou grandes sucesso e as novas músicas de seu novo trabalho.

Na platéia o instrumentista Armadinho.