sexta-feira, 8 de julho de 2011

A relação promíscua entre o jornalismo e a política

A sociedade brasileira vem experimentando os frutos de sua experiência democrática, observando o amadurecimento das instituições sociais, e reconhecendo estas como alicerces imprescindíveis para a estrutura sólida de uma democracia tão recente, frágil e, quiçá, infantil como a nossa. Neste afã, a imprensa exerce um papel importante como porta voz das demandas da sociedade e nas escolhas dos debates nas arenas do circuito de poder. Qual foi o papel dos jornalistas e do jornalismo para a contribuição no estabelecimento de um regime democrático de direito nas três últimas décadas?

As respostas, ou algumas delas, podem ser encontradas no livro Jornalismo e Política Democrática no Brasil, da jornalista Carolina Matos. O trabalho é fruto de uma pesquisa intensa, que resolveu analisar o posicionamento da grande mídia brasileira frente à campanha das Diretas Já, em 1984, e em três campanhas eleitorais para presidência da república: a de 1989, 1994 e 2002.

Não é novidade que a grande mídia, em muitos momentos, flertou com as instâncias políticas de poder, num jogo promíscuo de troca de favores e clientelismo. Todavia, a autora faz uma análise disto sem endossar um discurso bipolar - que ela mesma chama de ingênuo - que é apenas acreditar que os média apenas difundem o discurso das elites políticas dominantes, contribuindo, assim, para a permanência do status quo e do estabilisment da estrutura política. Carolina Matos prefere utilizar um método mais flexível, menos polarizado, como ela mesma afirma nas primeiras páginas do livro: “Neste trabalho, procurou-se não cair em nenhuma dessas armadilhas: seja analisar a mídia sob o prisma do pessimismo radical – aquele que não vê nada de bom ocorrer na esfera midiática, e que assim já declara um fracasso antecipado – ou num otimismo excessivamente apoiado numa visão de mídia como se esta fosse um amplo espaço de troca de ideias livres para o consumo”. Nesta perspectiva, o livro parece ser mais lúcido e menos impregnado de convicções ideológicas, tornando-o minimamente palatável.

No capítulo 1 (A mídia brasileira na berlinda: definindo uma agenda para o debate) Matos expõe de forma genérica, porém não pouco densa, uma introdução do trabalho e a perspectiva histórica da imprensa nacional. Já no capítulo 2 ela efetivamente começa seus estudos do posicionamento do jornal Folha de São Paulo na cobertura das campanhas das Diretas Já. Para tanto, a autora leu e comparou 871 matérias nos seis meses anteriores à votação da Emenda Dante de Oliveira, que previa a volta das eleições diretas para presidência da república. A partir destas matérias, que não foi só da Folha, Matos mostra o quanto o jornal paulista ficou claramente a favor das campanhas, não só através do teor da matérias,  como também em editoriais, sem esquecer de mencionar que o mesmo jornal, outrora, sustentou o próprio regime militar, agora é o mesmo que pede sua queda. A autora mostra como alguns críticos acusaram este posicionamento da Folha como mera jogada de marketing “adotada para dar impulso à imagem do jornal como principal veículo de comunicação que contribuiu para avançar na democracia”. É sempre bom lembrar que foi neste mesmo ano, conforme nos diz a autora, que a Folha de São Paulo, implantou a Reforma Folha, que trazia um novo modelo de jornalismo na estrutura organizacional do periódico, deixando o partidarismo de lado, tornando-o mais objetivo e plural, introduzindo as premissas do jornalismo liberal importado dos Estados Unidos, tratando as noticias agora, mais do que nunca, como mercadoria. Portanto, segundo Matos, esta foi a última vez que a Folha se engajou na defesa de um ideal político, mantendo-se a partir  de então uma postura mais neutra, não imparcial, todavia.

Um comentário:

EM DEFESA DE LAURO DE FREITAS disse...

Parabens pelo texto. Disponibilize link para que possamos divulgar no nosso twiter.

Cordialmente,

@EmDefesadeLF