sexta-feira, 1 de maio de 2009

Língua portuguesa: unificação da ortografia une laços entre povos e culturas

A língua portuguesa comporta duas modalidades: o escrito e o falado. Nessas modalidades, as duas não têm as mesmas formas, nem a mesma gramática, tampouco os mesmos recursos expressivos. Para ampliar o espaço de comunicação entre todos os falantes da língua, várias tentativas de unificar a ortografia foram criadas desde o começo do século XX entre Brasil e Portugal. Não se pode confundir ortografia de língua; não se trata de unificar a língua portuguesa, mas apenas sua ortografia, ou seja, a modalidade escrita. Para fortalecer a língua portuguesa é necessário que haja uma forma única de se escrever, para que o alcance de comunicação entre os países lusófonos seja mais abrangente, pois acima de pequenas comunidades locais há a comunidade nacional e internacional da língua portuguesa. Portanto, faz-se necessário uma forma de comunicação escrita que sirva não só para intercâmbios entre compatriotas, como para todos aqueles que falam o português, ou para quem quer aprender, transpassando o tempo entre pessoas que vivem em lugares e épocas diferentes; uma língua escrita que vá além das fronteiras de lugar e tempo, respeitando sempre o pluralismo linguístico e as peculiaridades dos falares local, pois a língua é o principal sistema simbólico que representa uma cultura; não só expressa aspectos linguísticos, mas expressa o ambiente social e nacional. A língua expressa e identifica um povo, sua cultura e suas diversas manifestações. Quando a língua é acessível não só aos seus falantes, quando não há obstáculos técnicos e elementos que dificultem sua compreensão, ela transpassa barreiras e propaga seu povo, sua cultura e suas manifestações, a limites antes inalcançáveis. Apenas quando os indivíduos falantes de uma mesma língua expandem seus canais de comunicação, para se compreenderem e respeitarem mutuamente, através da própria língua, se autoafirmam em qualquer tempo e espaço e se posicionam como pertencentes de uma única nação.
O acordo ortográfico gerou e ainda gera muitas discussões sobre seus impactos na sociedade. Primeiro é necessário elucidar alguns pontos comuns e equivocados sobre o acordo difundido pela mídia: o acordo não unifica a língua portuguesa, apenas unifica a forma de grafar as palavras, afinal nenhum decreto poderá unificar ou reformar uma língua, pois a língua é livre, nunca permanece presa, é imutável em relação ao tempo e as diferentes regiões, com ou sem acordos. Segundo, não existe reforma na língua; são apenas ajustes na forma escrita, modificando menos de 1% das palavras. Ademais, o debate sobre o acordo se fecha apenas no círculo acadêmico onde apenas escritores, linguistas, filólogos e pesquisadores têm espaço para emitir opinião; a língua é universal e deve também levar em conta a importância e impactos para todos os falantes e não apenas aos mais “letrados”. Não podemos mais admitir que o discurso conservador de gramáticos normativos, perenize uma ideologia linguística, que despreza e estigmatiza a diversidade da língua, onde a própria língua portuguesa sempre esteve refém, principalmente no que tange ao ensino/aprendizagem. O acordo unifica a língua escrita e não a falada, por isso a importância à pluralidade dos discursos, respeitando as variedades naturais da própria língua.
A língua portuguesa é complexa, com rígidas normas gramaticais, o que dificulta seu aprendizado, mesmo aos nativos onde a língua é oficial. Sua dupla ortografia dificulta também a difusão no âmbito internacional. A língua inglesa, embora falada em muitos países, possui poucas diferenças na ortografia; a língua árabe, falada em mais de vinte países, possui uma ortografia única. Assim, é necessário unificar a ortografia da língua portuguesa para que a língua alcance maior espaço, procurando mecanismos de acesso, simplificando-a graficamente, possibilitando o conhecimento do seu povo, sua origem e suas diversas representações. A unificação de sua ortografia não une apenas sua língua escrita, une também os laços entre povos e culturas; une comunidades para fortalecimento e difusão de apenas uma: a comunidade internacional da língua portuguesa.

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