sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O(s) cerceador(es) da liberdade de imprensa

Tradicionalmente no Brasil, os veículos de comunicação estão no comando de clãs, e isso, acredito, não é novidade para ‘ninguém’. Pouquíssimas famílias detêm o grande bolo do mercado de imprensa no país: Mesquita, Marinho, Civita e Frias, sem falar nas dinastias regionais, como Magalhães e Sarney, por exemplo, são alguns dos nomes com maior capacidade de proliferarem seus discursos a maiores geografias, e capazes, também, de formar opiniões em milhões de cabecinhas, pela audiência que alcançam. Na verdade, a ‘grande imprensa brasileira’ ainda é infantil, pois comporta-se como a opinião pública,  usurpando-a e produzindo um produto parecido com o jornalismo; nas entre linhas o discurso voraz em comandar o país, todavia; quiçá o mundo. Não se identifica nos maiores veículos e grupos de comunicação, uma posição preocupada no equilíbrio dos discursos, fazendo prevalecer uma construção parcial e limitada da realidade, tornado inútil seu propósito.

Ela, a grande imprensa, se auto-institucionalizou a voz da sociedade, auto-impondo sua opinião, como se fosse à opinião pública. Qualifica e desqualifica discursos e opiniões a bel prazer de suas convicções ideológicas, como fez, recentemente, com o presidente que, no exercício da liberdade de expressão, respaldado constitucionalmente, inclusive, dissera que no Brasil a mídia se comporta como partido político, e que cada veículo deveria se posicionar, formalmente, a respeito de seus respectivos apoios políticos partidários. A repercussão do comentário do presidente tomou dimensão gigantesca por parte da mídia nacional. Durantes os dias seguintes, editorias e reportagens eram confeccionados chamando Lula de autoritário e ditador, cujo queria amordaçar a imprensa e cecear a liberdade de expressão. Foi quase unânime a posição dos grandes veículos de comunicação do país a respeito do caso; satanizaram Lula como o monstro que quer degolar e estuprar a imprensa.

O comentário de Lula não foi nada além da verdade. Ou é mentira que a mídia no Brasil se comporta como partido? E a Veja, O Globo, Folha e Estadão? Todas elas com posições políticas claríssimas, porém veladas. Lula cutucou a onça que se irritou; tanto é verdade que, no dia seguinte a sua polêmica declaração, o Estado de S. Paulo, em editorial, repudiou as declarações de Lula, mas resolveu mostrar as caras: disse que apoiava Jose Serra para presidente. Não é muito mais honesto dizer a verdade que ficar travestida da falsa imparcialidade, como o próprio presidente falou na ocasião?

Dizer que a mídia age como partido é tentar amordaçar a imprensa, segundo ela mesma. Todavia, quem diz que um determinado jornalista mente em suas matérias, como José Serra fez aqui em Salvador com um profissional de imprensa, não é, tão ou mais grave, que o comentário do presidente Lula. Afinal, afirmar que um jornalista mente em suas matérias, somente pelo motivo de contrariá-lo, talvez, seja a mesma coisa que dizer um médico é charlatão, porque não curou uma doença. José Serra não apenas desqualificou o jornalista, mas desqualificou o jornalismo, pois a mentira não é, nem nunca foi matéria prima do jornalismo. Acusar um jornalista de mentiroso é sim tentar amordaçar a imprensa e cecear sua liberdade de expressão, mas o fato passou despercebido das reuniões de pauta e editorias de grandes jornais brasileiros. Inocuamente passou nesses espaços de deliberação política sistemática, que são as grandes redações jornalísticas no Brasil, a ameaça que senador e ex-presidente Fernando Collor fez ao jornalista da Istoé. Ele ligou para a redação ameaçando Hugo Marques, por algumas notinhas sobre o pedido de impugnação de sua candidatura. Entretanto, um pequeno comentário de Lula sobre o comportamento da imprensa, foi eleita por ela mesma, como símbolo de um presidente semi-ditador e autoritário. O mais engraçado desta trama metalinguista da imprensa brasileira, é que quando ela resolve ser pauta de si mesma, é apenas quando sente-se ameaçada, ela só não faz reportagem nem editorial, quando ela torna-se ameaça, inclusive a própria Liberdade de expressão  e imprensa.

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