quinta-feira, 27 de maio de 2010
As aparências não enganam
quinta-feira, 20 de maio de 2010
O processo anticivizatório
São prédios e mais prédios de geometrias plurais, onde homens se empenham para o quanto antes seus donos poderem adentrar com suas ideologias singulares, em seus veículos com nomes estrangeiros, nos seus condomínios de nomes estrangeiros, para seus mundos de alienígenas estrangeiros, cujo pode ser comprando por fortunas a metros quadrados. Afinal esse mundo construído com cimento e medo, é uma tentativa pífia de reproduzir sociedades longínquas, com outra cultura e outros contextos. Trata-se de uma nova e velha forma de ordenar os espaços urbanos com a propósito de ficar cada um no seu quadrado e cada um no seu mundo, como micro-sociedades distintas.
Pastilhas de vidro, porcelanato importado revestem o cinza frio do cimento na cidade das discrepâncias. Os muros antes invisíveis, porem visíveis, sitiam um novo mundo, porém velho. A esses mundos verticais, que ficam mais próximos do céu que da terra, batizam-nos, por exemplo, de Downtown, Le Parc, Mahatan, Especialle, Greenville; uma tentativa clara de importar para reproduzir uma sociedade estrangeira, talvez uma Miami da vida. Os sobrenomes desses esconderijos dos endinheirados são residence club, club private ou coisa parecida. A intenção também é além de outras, a exclusão lingüística para que o outro, aquele do outro lado do muro, que mal sabe seu português, não decodifique significados, dando a impressão de mais exclusividade.
Essas mansões que se destacam por mil e uma variedades de lazer e gozo pleno, tudo sem sair do lugar, para que se possa ficar o máximo de tempo trancado em sua limitação geográfica e ideológica, numa espécie de unidade carcerária de gente rica, cujo crime deve ter sido a omissão dos problemas sociais típico dessa elite historicamente estúpida. O world private dos barões que desfilam em Hilux, Civic, Tucson e similares, desejam sair menos as ruas, no outro mundo, para não se expor as mazeles urbanas e o caos da grande cidade soteropolitana. Essa gente também não gosta de ver o outro que pode levantar a mão ou para pedir ou para tomar o que eles demasiadamente têm em excesso.
Darcy Ribeiro, em O processo civilizatório, analisou a evolução das sociedade humanas na America Latina. Para o antropólogo brasileiro, um dos aspectos da civilização é a interação social e a troca de signos e valores de forma indistinta. Indo no pensamento de Ribeiro, vejo uma ação contrária, um processo anticivizatório. O individuo se enclausurando num espaço onde ele trabalha, dorme e se diverte sem por o pé na rua, pois o perigo é iminente e sua capacidade de enxergar além disso é inconveniente
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Entre a teoria e a práxis no ensino do jornalismo
Com a expansão das faculdades privadas, a academia passou a despertar o interesse de profissionais que viam na docência um mercado promissor. Fazer um mestrado tornou-se um passaporte para dar aula nas faculdades, mesmo para os recém-formados e com pouca experiência na pratica jornalística. Desta forma é comum ver professores na casa dos vinte e poucos anos, com muita teoria e pouca experiência a ensinar, mas com seu titulo de mestre. Já tive professores de 24 e 27 anos. Em Portugal o sindicato dos jornalistas já propôs que qualquer jornalista com dez anos de experiência teria acesso direto ao grau acadêmico de mestrado.
Acredito também que um jornalista com dez anos de carreira e sem mestrado tem muito mais a ensinar que aquele com dois de experiência e um titulo de mestre. A conseqüência da falta de longa e ampla experiência dos docentes,( claro que nem todos) deixa o ensino do jornalismo com teoria exacerbada; em sala quase não se nota competências e habilidades individuais, pois os discentes ficam sentados ouvindo os grande detentores da sabedoria, num método ultrapassado e ineficiente, principalmente no curso de jornalismo. Desta forma o excesso de teoria e a pouca prática tende a deixar o jornalismo (e o jornalista mecânico), robotizado e com grande dificuldade na hora de exercer a profissão na pratica real.
Como estudante de jornalismo, passei por três faculdades privadas em Salvador e a realidade não se diferencia muito uma da outra. Acredito que a teoria é importante para entender o fundamento, a técnica e a ética jornalística, mas a práxis deve ser priorizada.
Na França, depois de institucionalizar o ensino do jornalismo, defrontavam-se duas opções pedagógicas: os defensores de uma formação profissionalizante instituindo nas aprendizagens técnicas, e os partidários de uma formação intelectual. Acredito que as duas diretrizes devem ser incorporada uma a outra, mas a formação intelectual deve ser priorizada, privilegiando o empírico, mas sem desprezar o teórico. Acredito que o jornalismo se aprende na pratica , nas redações e nas ruas, onde estão os verdadeiros professores.