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O vidro sujo, que outrora fora transparente, ofusca a paisagem da angústia e do medo urbanos. Tenho inveja de quem não precisa pegar ônibus. Talvez o único lugar onde quem está por baixo está melhor de quem está por cima seja no trânsito.
Cada carro que passa com seu desaine imponente desperta por alguns segundo meus olhos e minha inveja. Eu tenho vontade de ter um carro. No meu carro ninguém me incomodará me pedindo desculpas por estar interropendo minha viagem, para oferecer guloseimas de origem duvidosa. Eu não tenho vontade de saber das novidades bombonierísticas, pois sei onde ficam as lojas americanas; e, além do mais, é melhor não ver essas coisas mesmo, pois ver crianças e velhos maltrapilhos podem despertar meu senso humanitário, coisa que detesto.
Em meu carro não ficarei com medo de alguém entrar para me roubar, pois apenas entrará no meu carro pessoas convidadas por mim; também estarei menos exposto e mais seguro, porque tenho medo de andar de ônibus, e, por hora, tenho nojo. Não me sinto bem; acho ele sujo, feio e tenho quase certeza que ali se transportam mais germes e bacterias que de fato gente.
Todo dia no onibus pessoas que nunca vi, ou pessoas que sempre vejo. Tem muita gente que eu nem sei quem é, se é pessoa de bem, se ali tem alguém de má fé capaz de me colocar em risco, afinal ninguém precisa de antecedentes criminais para entrar no ônibus. Mas a gente conhece pela cara as entidades do mal. Eles são facilmente identificados, pois carregam sobre sua pela escurecida símbolos que incriminam-os, revalando sua marginalidade e despertando tensão quando infiltram no coletivo.
O corte de cabelo pode representar alguma coisa. Eles podem ter aquele V.O. onde na parte superior da cabeça têm cachos impreguinado de alisante e gel, ou um corte com desenhos à gillete de marcas como Seaway. Porém esses cortes excêntricos só ficam à vista se não estiverem com bonés das marcas como Hang Loose, Ciclone, BillaBong etc. Todo mundo sabe que quem usa ciclone é ladrão ou futuro candidato. Cada item com essa marca, a ciclone, aumenta a probabilidade do perigo que o individuo representa, como um tufão na cidade de papel.
As tatuagens são também indícios. A localização, a qualidade e o desenho dizem muita coisa. Se a tatuagem é aquela extremamente amadora e tecnicamente horrível, o elemento perdeu o senso estético e, portanto, representa mais perigo.
O brinco aliado a sandália, que deve ser da marca Kenner, vai compondo os adereços dessa gente pernisiosa. Agregado a isso, o óculos estilo Varnet e o batidão ratificam a certeza. Quanto ao batidão, que é uma corrente de prata, quanto mais grossa e maior for, consequentemente, maior será o perigo que ele oferece.
Se ele sentar-se no fundo do ônibus e colocar para tocar no celular alguma música dos racionais é bom ter medo. A forma que ele fala também denuncia; dicção ruim, um gingado na fala tipicamente de malandro, repleto de neologias e gírias que apenas ele decodifica, sempre com olhares desconfiados e intimidadores. Essas pessoas são geralmente feias e quanto maior for sua feiura e bizarrise estérica e maior itens acima ele carregar, a possibilidade desse lhe fazer um mal e quase cem por cento.
Na hora que ele levantar peça a deus para não morrer, pois ele pode te matar ou apenas descer no príximo ponto. Por isso que eu quero ter meu carro.
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