Um horizonte vermelho e cinza. Essas são as cores que vemos no momento em que passamos por alguns trechos da avenida paralela, em Salvador, cujo nome oficial é Luiz Viana, e outrora era apenas unicolor: o verde. Ali grandes empreiteiras de grupos bem representados em várias instituições, principalmente políticas, mutilam a mata atlântica para construírem o país vertical das maravilhas, como uma espécie de Lewis Carroll à baiana; mas o efeito maravilha desse mundinho acaba quando abrem-se os portões e as portas da não esperança do mundo da não fantasia.
São prédios e mais prédios de geometrias plurais, onde homens se empenham para o quanto antes seus donos poderem adentrar com suas ideologias singulares, em seus veículos com nomes estrangeiros, nos seus condomínios de nomes estrangeiros, para seus mundos de alienígenas estrangeiros, cujo pode ser comprando por fortunas a metros quadrados. Afinal esse mundo construído com cimento e medo, é uma tentativa pífia de reproduzir sociedades longínquas, com outra cultura e outros contextos. Trata-se de uma nova e velha forma de ordenar os espaços urbanos com a propósito de ficar cada um no seu quadrado e cada um no seu mundo, como micro-sociedades distintas.
Pastilhas de vidro, porcelanato importado revestem o cinza frio do cimento na cidade das discrepâncias. Os muros antes invisíveis, porem visíveis, sitiam um novo mundo, porém velho. A esses mundos verticais, que ficam mais próximos do céu que da terra, batizam-nos, por exemplo, de Downtown, Le Parc, Mahatan, Especialle, Greenville; uma tentativa clara de importar para reproduzir uma sociedade estrangeira, talvez uma Miami da vida. Os sobrenomes desses esconderijos dos endinheirados são residence club, club private ou coisa parecida. A intenção também é além de outras, a exclusão lingüística para que o outro, aquele do outro lado do muro, que mal sabe seu português, não decodifique significados, dando a impressão de mais exclusividade.
Essas mansões que se destacam por mil e uma variedades de lazer e gozo pleno, tudo sem sair do lugar, para que se possa ficar o máximo de tempo trancado em sua limitação geográfica e ideológica, numa espécie de unidade carcerária de gente rica, cujo crime deve ter sido a omissão dos problemas sociais típico dessa elite historicamente estúpida. O world private dos barões que desfilam em Hilux, Civic, Tucson e similares, desejam sair menos as ruas, no outro mundo, para não se expor as mazeles urbanas e o caos da grande cidade soteropolitana. Essa gente também não gosta de ver o outro que pode levantar a mão ou para pedir ou para tomar o que eles demasiadamente têm em excesso.
Darcy Ribeiro, em O processo civilizatório, analisou a evolução das sociedade humanas na America Latina. Para o antropólogo brasileiro, um dos aspectos da civilização é a interação social e a troca de signos e valores de forma indistinta. Indo no pensamento de Ribeiro, vejo uma ação contrária, um processo anticivizatório. O individuo se enclausurando num espaço onde ele trabalha, dorme e se diverte sem por o pé na rua, pois o perigo é iminente e sua capacidade de enxergar além disso é inconveniente
quinta-feira, 20 de maio de 2010
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