sexta-feira, 5 de junho de 2009

Carmen Costa e a mulher contemporânea


Qual posicionamento uma cantora dos anos 40, em plena era de ouro do rádio, poderia adotar ao falar da mulher de sua época? Se observarmos Alaíde Costa vemos um paradoxo com Carmen Costa, pois Carmen parecia cantar a rebeldia da tradicional mulher dona de casa que representava na época. O que se mostra mais estranho é que Carmen Costa foi uma empregada doméstica, cujo próprio patrão levou-a para o mundo da música. Então o que poderia cantar uma ex-empregada doméstica dos anos 40? A proclamação da mulher frente à sociedade de cultura machista? Sim! Carmen Costa personificava uma militante do movimento feminista na música e representava uma mulher livre da cultura dominante que reprimia o desejo da mulher. Carmen foi ousada, mostrou a mulher detentora do poder, escolhedora da paixão, da mulher que manda o homem embora, que não aceita mais ser a submissa. A mulher que Carmen representava não admitia mais os moldes, os arquétipos, os clichês. Foi talvez sua rebeldia, frente a uma sociedade hipócrita, que abriu os caminhos para outras formas de expressão de ruptura de um padrão cultural; talvez Carmen plantou uma causa para mais tarde Rita Lee escandalizar sua músicas repletas de orgia e Leila Diniz, na audácia de uma mulher contemporânea, violada pelo mundo machista.

Pensar nas canções de Carmen Costa no sentido político da mulher emancipadora, pode soar estranho, afinal não é mulher que obedece ao homem quando diz “rala a chana no chão”, ou quando ela mesma fala que “Dako é bom” , ou seja, o que poderia significar então as músicas de sua época? O que deve se observar é o contexto de uma época onde a mulher tinha acabado de ganhar o direito de votar e ainda seria proibida de ir à praia de biquíni, da mulher sem espaço no mercado de trabalho e que a ela apenas caberia ser dona de casa, cuidar dos filhos e esperar seu marido. Neste caso Carmen parece já ter rompido com isso, pois já trabalhava na rua com doméstica, por razões mesmo que desconhecidas. Então o que significa uma mulher cantar nos anos 40 “Ele é casado e eu sou a outra na vida dele, que vive igual uma brasa [...] quem me condena como se condena uma mulher perdida só me ver na vida dele, mas não o ver na minha vida [...] mas tenho muita mais lata do quem não soube prender o marido, ou ainda: Não volte a bater em minha porta, outra vez, não faça o papel tão triste que você fez, se é que ainda tem sentimento e pudor, você para mim já morreu não fique no meu caminho, que me critica não sabe a historia real se baseia falsamente em manchetes do jornal, e para entendermos ainda mais o sentido contextualizado Carmen canta: "o homem sacode a lapela e ta tudo bem, a poeira cai. A mulher quando perde a linha pode lavar que mancha não sai, pode lavar que mancha não sai, sacode a poeira, mulher quando presa seu nome, não dar o que tem sempre a cabeça erguida, sabe o terreno que ela deve pisar". Carmen utiliza de sua música para politizar-se e politizar a mulher de sua época, rompendo padrões para emancipação da mulher livre e igual ao homem, afinal Carmem é precursora neste processo da luta da igualdade de gênero e utilizou da música para seu instrumento político.

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