Não quero aqui ser tão estúpido reproduzindo, como um eco, as posições de intelectuais e teóricos de comunicação brasileiros. Mas, acredito na pertinência, devido à realidade, de perguntar: qual é mesmo o papel da imprensa? No Brasil, a imprensa tem o único papel de ser apenas ridícula; mas como Marx já disse que a imprensa é a expressão de um povo, pergunto novamente: onde está a impavidez colossal deste povo?
Que temos uma imprensa frívola isto é fato, pois os fatos (ou versões) da imprensa são frívolos, como esta nova onda de comoção nacional alicerçada pela irreflexão e imbecilidade. A novela divide-se em cinco capítulos: primeiro foi o caso Pedrinho, seqüestrado pela malvada Vilma; em seguida foi a monstra, patricinha classe média Suzane, que mandou matar os pais que dormiam como anjinhos; João Helio Fernandes foi o protagonista do terceiro capítulo; a garota Nardone foi à estrela do quarto episódio e a heróica garota Eloá, que morreu por amor, fecha parcialmente o capitulo final. Alguém sabe o nome desta novela? Eu sei: lagrimas de diamantes, uma trama dirigida e encenada pelos homens da imprensa deste país chamado, Brasil?
A imprensa parece não saber discernir a esfera publica da privada; o interesse coletivo do particular, e cai na tolice. As pessoas parecem não saber também, pois caso soubessem repugnariam tais comportamentos que imprensa ainda insiste. Qual mesmo o interesse social de um psicopata que, por frustração da perda, mata a namoradinha? Nenhum! Se for para comover as pessoas por mortes, porque a imprensa não coloca as pessoas para chorarem pelos assassinatos diários nas favelas e periferias deste país? Se for para fazer chorar, porque então não noticia todo dia e toda hora, entrando em plantão, quando cada cidadão morrer pela falência do serviço público de saúde? Então, em vez de fazer como as revistas semanais, que trazem nas capas um fundo negro assustador dizendo que sua filha apode ser a próxima Eloá, causando mais pânico que informação, não mostram o número de mortos de fome pelos cantos desta pátria. E o que diríamos (e as pessoas pensariam) se em vez de apresentadores simularem sentimentos de condolências, discutissem sobre os assassínios nos interiores do Norte do país por disputas de terras para exploração ilegal de madeira por grileiros. Ah, e se os magníficos repórteres em vez de perguntarem o quê às pessoas acham do caso Eloá, perguntassem aos nossos parlamentares sobre a violência letal cometida pelos policiais aos negros a serviço do Estado, ou mesmo perguntassem a estes onde seus filhos estão enquanto os filhos de pessoas negras, pobre e analfabetas são executadas em bairros sem nenhuma infra-estrutura digna?
Se a imprensa tivesse uma postura mais descente e menos descarada, mortes, assassinatos poderiam levar a sociedade a debater os projetos para diminuir a violência e a desigualdade social, políticas publicas eficazes, e não paliativas, para saúde, educação e segurança, levar toda a sociedade dentro dos parâmetros éticos e discursiva os problemas sociais , os serviços públicos oferecidos pelo Estado, de uma sociedade caracterizada pela exploração e segregação.
O papel da imprensa deve ser respeitado na sua essência que é levar a sociedade questões de interesse publico e quando isto não acontece cabe ao Estado, como agente da ordem e do bem estar social, censurar e inibir de forma enérgica conteúdos irrelevantes e prejudiciais exposto pela imprensa. Mas como no Brasil, talvez em outros lugares, imprensa e poder dormem na mesma cama no fim da noite, é necessário um novo rumo para construção de uma verdadeira democracia e isto começa com a imprensa.
Casos como o de Eloá irão acontecer sem dúvidas, como um novo capítulo desta novela quase interminável, e diga-se passagem, sem final feliz, e a imprensa se comportará esdruxulamente nesta dramaturgia midiática, pois deve fazer seu papelão ridículo, agindo tipicamente de forma chula e grotesca, sustentando suas posições ideológicas de olhos nos picos de audiências e nos montantes bancários.
domingo, 7 de dezembro de 2008
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